Depois de ter sido afastada, a ex-Presidente do Brasil disse que "a história será implacável". Dilma promete continuar a lutar pela sua verdade e pelo Brasil.
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"Pensam que nos venceram, mas estão enganados. Sei que todos nós vamos lutar (...) Haverá contra eles a mais determinada oposição que um governo golpista pode sofrer", disse.
Citando um poema, Dilma Rousseff disse que "não gostaria de estar no lugar dos que se julgam vencedores", porque "a história será implacável com eles, como já o foi em épocas passadas".
Num discurso de menos de 10 minutos, Dilma Roussef considerou-se vítima de uma farsa jurídica e acusou os senadores que votaram favoravelmente de rasgarem a Constituição brasileira.
Em tom emotivo, a presidente afastada prometeu recorrer da decisão para o Supremo Tribunal Federal e avisou que o governo de Michel Temer terá a oposição mais forte que um governo alguma vez teve.
Falando para uma multidão que a aguardava e ao lado de de vários políticos, como o ex-Presidente Lula da Silva, no Palácio da Alvorada, uma das residências oficiais usadas pelo Presidente do Brasil, Dilma alertou que a "mágoa" é "péssima conselheira", mas propôs que todos "lutem juntos contra o retrocesso" e "contra a agenda conservadora", numa referência ao governo de Michel Temer, que agora assumirá o país em pleno até 2018.
"Esta história não acaba assim. Estou certa de que a interrupção deste processo pelo golpe de Estado não é definitiva. Não voltaremos apenas para satisfazer nossos desejos ou nossas validades. Voltaremos para continuar a nossa jornada rumo a um Brasil em que o povo é soberano", disse.
Dilma Rousseff disse que viveu a sua verdade e nunca fugiu das suas responsabilidades, frisando que saiu da Presidência como entrou, "sem ter incorrido em qualquer ato ilícito" e "sem ter traído qualquer um dos meus compromissos", numa referência aos seus opositores e ao seu vice-Presidente, Michel Temer, a quem tem acusado de traição.
A primeira mulher Presidente do Brasil, que lutou contra a ditadura militar que considera ter sido alvo de "misogenia" (aversão às mulheres), referiu ainda: "É o segundo golpe de estado que enfrento na vida", desta feita, "com uma farsa jurídica".
Citando outro poema, disse que "não estamos alegres, é certo, mas também por que razão haveríamos de ficar tristes", dado que "o mar da historia é agitado".
"Condenaram uma inocente e consumaram com golpe parlamentar", sublinhou ainda, realçando que a decisão foi tomada por políticos que procuram escapar à justiça e pelos derrotados nas presidenciais que ela venceu, em 2014.
Alertou ainda que o "golpe de estado" é contra os movimentos sociais e as políticas que o seu governo e o do seu antecessor e mentor político, Lula da Silva, tomaram em defesa dos pobres e das minorias.
A multidão gritou "Dilma guerreira da pátria brasileira" e chamou Michel Temer de "golpista", prometendo resistência.
Dilma Rousseff perdeu hoje o mandato presidencial depois de uma votação no Senado (câmara alta parlamentar) em Brasília, em que dos 81 senadores brasileiros presentes, 61 votaram pela sua destituição e apenas 20 a apoiaram.