Diplomata de Trinidad e Tobago eleito próximo presidente da Assembleia Geral da ONU
Dennis Francis, o embaixador mais antigo do seu país, foi o único nome a disputar o cargo.
Corpo do artigo
O diplomata Dennis Francis, natural de Trinidad e Tobago, foi esta quinta-feira eleito, por aclamação, como próximo presidente da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) para a sua 78.ª sessão, que terá início no próximo mês de setembro
Com uma carreira diplomática de aproximadamente 40 anos - o que o torna no embaixador mais antigo do seu país - Dennis Francis foi o único nome a disputar o cargo, para o qual a sua visão assenta em quatro princípios: "Paz, prosperidade, progresso e sustentabilidade."
Dennis Francis substituirá o húngaro Csaba Korosi, eleito em 2022 e que permanecerá no cargo até setembro, num mandato guiado pelo lema "Soluções através da solidariedade, sustentabilidade e ciência."
A eleição desta quinta-feira seguiu a rotação regional estabelecida, que para este ano determinou a escolha de um candidato do grupo de Estados Latino-Americanos e Caribenhos.
Num discurso emocionado e com foco no poder da educação, Dennis Francis defendeu o "empoderamento das pessoas, em todos os lugares, através da eliminação das correntes que restringem o seu crescimento e independência e negam qualquer possibilidade de criar o seu próprio sucesso".
"Nunca me ocorreu que me encontraria como presidente da Assembleia Geral da ONU. (...) Mas estou consciente da sensibilidade e do peso da responsabilidade. É minha esperança criar, com o vosso apoio, uma atmosfera renovada de conciliação, cooperação e compromisso compartilhado para enfrentar os muitos desafios e aproveitar todas as oportunidades, por mais emergentes que sejam", disse, perante o corpo diplomático presente da Assembleia Geral, em Nova Iorque.
Em oposição à "opressão, injustiça e discriminação racial", o presidente eleito da Assembleia Geral assegurou que será guiado pelos princípios do "amor à liberdade, fé suprema, dignidade e valor da pessoa humana e crença no valor da cooperação".
O secretário-geral da ONU, António Guterres, também esteve presente na sessão, na qual agradeceu a "habilidade diplomática" e "dedicação" de Csaba Korosi ao longo do seu mandato, admitindo que sentirá falta dos "conselhos e orientações" do diplomata húngaro, e felicitou Dennis Francis pelo cargo, para o qual levará uma "ampla gama de habilidades, experiência e conhecimento".
"Francis chega num momento profundamente desafiador para a família humana: conflitos e caos climático; escalada da pobreza, da fome e da desigualdade; desconfiança e divisão. Enquanto isso, o nosso roteiro para um futuro melhor - a Agenda 2030 - está em perigo. Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável estão a ficar fora de alcance. Em todas essas questões, o mundo espera que esta Assembleia una os Estados-membros em torno de soluções comuns", disse Guterres.
"Esperamos que o presidente eleito leve adiante o tema da sua presidência - Paz, Prosperidade, Progresso e Sustentabilidade - no próximo ano e que reúna esta Assembleia para fortalecer a cooperação global neste momento difícil", acrescentou.
Também Korosi manifestou confiança na vasta experiência do diplomata eleito e na sua "perspetiva única vinda de um pequeno Estado insular em desenvolvimento".
Nos quase cem dias de mandato que ainda tem, Korosi indicou que ainda tem muito trabalho pela frente e prometeu "uma transferência bem-sucedida e progresso contínuo nas muitas questões importantes atualmente na agenda das Nações Unidas".
A Assembleia Geral é o órgão onde os 193 Estados-membros da ONU se sentam em pé de igualdade e com uma função exclusivamente representativa, uma vez que o verdadeiro poder é exercido pelo Conselho de Segurança, onde são membros permanente cinco grandes potências - os Estados Unidos, a China, a Rússia, o Reino Unido e a França - que têm o direito de veto.
Contudo, desde o início da guerra na Ucrânia - em fevereiro de 2022 - e face aos vetos impostos por Moscovo, a Assembleia Geral desempenhou um papel preponderante em várias ocasiões, quando votou resoluções que condenaram a Rússia pela invasão da Ucrânia.
Exigidas por vários países ocidentais face à inação do Conselho de Segurança, estas votações na Assembleia serviram para evidenciar o relativo isolamento da Rússia na comunidade internacional.
Os poderes do presidente da Assembleia Geral incluem a supervisão do orçamento da ONU, a nomeação dos membros não-permanentes para o Conselho de Segurança e a condução do processo de nomeação do secretário-geral da ONU.
Outras atribuições incluem receber relatórios de outras áreas das Nações Unidas, fazer recomendações na forma de resoluções, bem como estabelecer vários órgãos subsidiários.
O professor catedrático e político português Diogo Freitas do Amaral foi presidente da 50.ª Assembleia Geral da ONU entre setembro de 1995 e setembro de 1996.
A 78.ª sessão da Assembleia Geral da ONU terá início no próximo mês de setembro.