O antigo juiz que presidiu à comissão de inquérito da ONU sobre os direitos humanos na Coreia do Norte espera que o assunto não fique à margem da cimeira de Singapura.
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Depois de ouvir Donald Trump dizer que provavelmente falaria com Kim Jong-un sobre a violação dos direitos humanos, o jurista australiano Michael Kirby está mais otimista. Em declarações à TSF, o antigo presidente da comissão de inquérito das Nações Unidas sobre os direitos humanos na Coreia do Norte defende que, sem respeito pelos direitos humanos, não haverá paz na península coreana.
"Os países que oprimem os direitos humanos são instáveis e perigosos. Perigosos para os governantes e para o povo. É por isso que é difícil lidar apenas com o programa nuclear que, em si, já é um problema de direitos do homem. É difícil abordá-lo isoladamente dos direitos humanos", afirmou.
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Michael Kirby acredita que Trump vai ser forçado a falar do assunto, durante a cimeira de Singapura, que começa na madrugada de terça-feira. A imprensa norte-americana e internacional não vai irá deixar de abordar o tema e, de uma forma ou de outra, a violação dos direitos humanos estará em cima da mesa.
Trata-se de uma mudança em relação ao encontro entre os líderes das duas Coreias, que quando se reuniram, em abril, não dedicaram qualquer linha aos direitos humanos, no comunicado final sobre o encontro. Michael Kirby admite que não ficou surpreendido, ema vez que "a Coreia do Norte já disse uma série de vezes que mencionar este assunto será um impedimento sério ao diálogo entre as duas coreias. Diz que há muita sensibilidade acerca disso mas o resto do mundo também é sensível a isso".
Apesar de acreditar que os direitos humanos não serão esquecidos, o antigo presidente da comissão de inquérito da ONU não tem grandes expectativas: "O melhor resultado será a abertura de alguma forma de diálogo. Isso é sempre bom nas relações internacionais. Um diálogo que será depois aberto a outras potências da região. Não podemos esperar que todos os problemas sejam resolvidos imediatamente".
A comissão presidida por Michael Kirby apresentou o relatório final em 2014. O texto foi duramente criticado pela Coreia do Norte, que se recusou a aceitar os resultados. Os investigadores denunciaram que os crimes do regime incluem: extermínio, assassinatos, escravatura, tortura, detenções ilegais, violações, abortos forçados e outras violências sexuais, perseguição motivada por motivos políticos, religiosos, raciais e de género, transferências forçadas de população, desaparecimentos e uso da fome para matar. Acusações que, declarou o parecer da comissão, podem ser enquadrados como crimes contra a humanidade.