Apesar da falta de investimento no Museu Nacional do Rio de Janeiro - que ardeu este domingo - estava previsto um programa de reabilitação da instituição que não chegou a tempo de evitar o desastre.
Corpo do artigo
O diretor do Museu Nacional de Arte Antiga acusou o Governo brasileiro de "negligência" por não ter investido no Museu Nacional do Rio de Janeiro que ardeu este domingo. António Filipe Pimentel defende que houve um desfasamento entre o valor do acervo daquele museu e o deficiente apoio dado à instituição.
"Se pensarmos no pouco que representa em termos de orçamento global de um Estado o apoio e a sustentação de uma instituição desta natureza e o ónus que representa a sua perda irreparável há uma distância absolutamente abissal", disse à TSF.
TSF\audio\2018\09\noticias\03\antonio_filipe_pimentel_2
Apesar da falta de investimento no museu, estava previsto um programa de reabilitação da instituição que não chegou a tempo de evitar o desastre.
"Há aqui, de facto, uma negligência no que é a política e que vem de longe. Infelizmente o museu estava já na linha do horizonte, mas a ironia das coisas é exatamente essa. Tinha um programa já de reabilitação aprovado, com uma verba que não faço ideia se era suficiente, mas que, pelo menos, iria permitir colmatar as principais deficiências."
Grande parte da História do Brasil parece estar apagada para sempre. Noutro plano, o diretor do Museu Nacional de História Natural e da Ciência da Universidade de Lisboa acredita que não é possível reconstituir o Museu Nacional no Rio de Janeiro "tal qual existia".
José Pedro Dias explica à TSF que hoje em dia "no que diz respeito a objetos naturais - tanto zoológicos como de outra natureza - já não se consegue fazer a colheita com a facilidade com que se fazia há cem ou duzentos anos, por questões de preservação e de defesa do ambiente."
TSF\audio\2018\09\noticias\03\jose_pedro_dias_2
Na visão do também professor universitário, nem um grande investimento monetário chegaria para salvar o museu: "As regras hoje são muito apertadas e isso é impossível. Mesmo que eles [o Estado brasileiro] investissem todo o dinheiro do mundo não é possível reconstituir o museu."
O diretor português sublinhou ainda que esta é uma situação particularmente sensível para o museu que dirige, uma vez que em 1978 também uma parte do espólio desta instituição ficou destruída num incêndio que atingiu a Faculdade de Ciências: "O museu tinha as coleções depositadas lá dentro. Para nós é particularmente doloroso ver o que aconteceu no Rio de Janeiro", rematou.