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A BBC viu-se nos últimos dias no centro de uma controvérsia, acusada de ter apresentado de forma enganosa as declarações do presidente norte-americano num documentário do programa de informação Panorama", transmitido em outubro de 2024
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O diretor-geral da BBC, Tim Davie, e a presidente executiva da BBC News, Deborah Turness, demitiram-se este domingo na sequência de uma reportagem que visava o presidente dos EUA, Donald Trump.
"É um dia triste para a BBC", afirmou o presidente da estação pública britânica, Samir Shah, em comunicado.
Na nota, Samir Shah referiu que "Tim foi um excelente diretor-geral nos últimos cinco anos", mas enfrentou "uma pressão persistente [...] que o levou a tomar esta decisão".
A BBC viu-se nos últimos dias no centro de uma controvérsia, acusada de ter apresentado de forma enganosa as declarações do presidente norte-americano num documentário do programa de informação Panorama", transmitido em outubro de 2024.
A ministra britânica da Cultura, Lisa Nandy, considerou este domingo o caso "extremamente grave", e o presidente da BBC, Samir Shah, foi chamado a prestar esclarecimentos perante uma comissão parlamentar na segunda-feira.
Na mensagem aos colaboradores da empresa em que anunciava a decisão de se demitir, transmitida pela BBC, Davie reconheceu que "o debate atual em torno da informação da BBC contribuiu para a decisão".
"Embora a BBC funcione bem no geral, foram cometidos erros e, em última análise, o diretor-geral deve assumir a responsabilidade", acrescentou.
A presidente executiva da BBC News, Deborah Turness, que também se demitiu, explicou numa carta aos funcionários que "a atual controvérsia em torno da reportagem Panorama sobre o Presidente Trump chegou a um ponto em que prejudica a BBC".
O caso, revelado na terça-feira pelo jornal conservador The Daily Telegraph, diz respeito a um documentário transmitido uma semana antes das eleições presidenciais americanas de 05 de novembro de 2024.
A BBC é acusada de ter editado diferentes partes de um discurso de Donald Trump datado de 06 de janeiro de 2021 - dia em que centenas de apoiantes invadiram o Capitólio - insinuando que o Presidente norte-americano disse aos seus apoiantes que iria caminhar com eles até o Capitólio para "lutar como demónios".
No entanto, na frase original, Trump dizia: "Vamos caminhar até ao Capitólio e vamos encorajar os nossos corajosos senadores e representantes no Congresso".
A expressão "lutar como demónios" correspondia, na verdade, a outra passagem.
Donald Trump recusava-se então a reconhecer a derrota nas urnas frente ao democrata Joe Biden.
Em declarações esta manhã à BBC News, Lisa Nandy expressou preocupação com as decisões editoriais da BBC, que "nem sempre respondem aos mais elevados padrões".
"Não se trata apenas do programa Panorama, embora seja extremamente grave, mas de uma série de alegações muito graves, sendo a mais grave delas a existência de um preconceito sistémico na forma como os temas difíceis são tratados pela BBC", afirmou a ministra da Cultura.
Citada no Telegraph, a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, denunciou uma montagem "deliberadamente desonesta", criticando "informações 100% falsas".
A BBC também foi criticada em 17 de outubro pelo regulador dos meios de comunicação britânico (Ofcom) por ter "violado as regras de difusão" numa reportagem em Gaza, na qual o narrador principal, uma criança, era filho de um alto responsável do movimento islâmico palestiniano Hamas.
A Ofcom considerou que o facto de não ter especificado essa relação familiar "constituía uma fonte de engano substancial".
