"Discurso de Trump sobre Gronelândia, Canadá e Canal do Panamá está muito próximo do discurso de Putin sobre a Ucrânia"
Em declarações à TSF, o antigo presidente da Assembleia da República espera que os Estados Unidos "não contribuam para que a Rússia consiga atingir o objetivo de passar a ocupar uma parte do território que pertence à República da Ucrânia"
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Augusto Santos Silva espera que os Estados Unidos não ajudem a Rússia a conquistar territórios ucranianos. Donald Trump afirmou que teria como uma das principais prioridades resolver a guerra na Ucrânia quando regressasse à Casa Branca. Em declarações à TSF, o antigo presidente da Assembleia da República e ex-ministro dos Negócios Estrangeiros destaca semelhanças entre o líder russo e o novo líder norte-americano.
"O discurso de Donald Trump sobre a Gronelândia, sobre o Canadá, sobre o Canal do Panamá, está muito próximo do discurso de Putin sobre a Bielorrússia, os Países Bálticos ou a Ucrânia. Eu espero bem que os Estados Unidos não contribuam - por ação ou por omissão - para que a Rússia consiga atingir um dos objetivos que formulou, que era o objetivo de passar a ocupar uma parte do território que pertence à República da Ucrânia", afirma à TSF Augusto Santos Silva.
Em novembro, após a eleição, Trump confirmou que pretende deportar imigrantes indocumentados e garantiu ainda que iria mobilizar militares e declarar estado de emergência nos Estados Unidos para impor uma deportação em larga escala. Já este domingo, num comício em Washington, na véspera de tomar posse, o Presidente eleito dos EUA prometeu pôr fim à “invasão” que considera representar a imigração ilegal.
“Vamos acabar com a invasão das nossas fronteiras”, disse Trump, sublinhando: "Agirei com uma rapidez e uma força sem precedentes."
Para esta eventualidade, o Governo dos Açores está a preparar um plano de contingência para acolher emigrantes açorianos que possam ser deportados dos Estados Unidos. Augusto Santos Silva considera que este é um uso abusivo da deportação.
"Há um uso legítimo da figura jurídica da deportação: no caso em que alguém que é condenado, cumpriu a pena, não é nacional do país onde cumpriu a pena e é deportado para o país de onde é nacional. E há um uso ilegítimo da figura da deportação: o Presidente eleito, Donald Trump, ameaça usar ilegitimamente, abusivamente, a figura da deportação, deportando em massa. E todos nós estamos a pedir-lhe que não use isso e que não manche o prestígio e a credibilidade dos Estados Unidos com semelhante ação", refere.
Donald Trump toma esta segunda-feira posse como o 47.º Presidente norte-americano, numa cerimónia em Washington marcada pela presença de políticos internacionais populistas e de extrema-direita, mas com escassos responsáveis governamentais e sem líderes da União Europeia (UE).
O momento marcará o regresso à Casa Branca do político republicano, que venceu a vice-presidente e candidata democrata, Kamala Harris, nas eleições presidenciais norte-americanas de 5 de novembro, depois de um primeiro mandato (2017-2021) e de ter falhado a reeleição, face à vitória de Joe Biden.
