O Irão fez um ultimato: ou há novo acordo nuclear, ou o país retomará o enriquecimento do urânio. Como se passou de um acordo histórico a uma tensão sem fim à vista?
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A História começa a escrever-se em 2015, quando o Irão aceita assinar um acordo nuclear com seis países. O "dia histórico" anunciado por Barack Obama, na altura Presidente dos EUA, previa que, em troca do levantamento das sanções internacionais, o Irão se comprometia a reduzir o número de centrifugadoras de urânio e a não construir, nos próximos 15 anos, mais estruturas para enriquecer urânio.
Estados Unidos, China, Rússia, Reino Unido, França, Alemanha e Irão celebravam aquilo que pensavam ser o final de um ciclo e o início de uma era de diálogo. O objetivo era travar qualquer iniciativa do Irão para fabricar uma bomba atómica.
Três anos depois, Donald Trump decide rasgar o acordo, anuncia que vai voltar a aplicar todas as sanções dos EUA contra o Irão , que foram removidas como parte do acordo nuclear de 2015, e a tensão entre os dois países aumenta.
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O Presidente dos Estados Unidos da América argumentava, em novembro de 2018, que os termos do acordo eram inaceitáveis e sublinhava que os mesmos não impediram o Irão de desenvolver um programa de mísseis balísticos e intervir em países vizinhos, incluindo a Síria e o Iémen.
Com esta nova fase de sanções, os Estados Unidos esperavam que todos os países reduzissem a zero a importação de petróleo do Irão, o que seria um duro golpe numa economia que tem no setor energético uma base fundamental.
A resposta do Presidente iraniano não tardava em chegar. Hasan Rohani prometia "derrotar orgulhosamente" as sanções dos Estados Unidos , que considerava "ilegais, injustas e contrárias ao direito internacional".
A pressão sobre o setor petrolífero aumentou no mês passado, quando Washington decidiu não renovar as isenções para a compra de petróleo cru iraniano por parte de oito países, incluindo grandes importadores, como a China, a Rússia e a Turquia.
Além disso, o Departamento de Estado dos EUA anunciou na sexta-feira a imposição de novas sanções com o objetivo de restringir o programa nuclear iraniano. Por outro lado, a Europa adotou uma série de medidas para tentar neutralizar as sanções dos EUA, incluindo um canal de pagamento especial mas, por enquanto, sem sucesso.
A tensão não parou de aumentar e ganhou novas proporções esta terça-feira, quando o secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, fez uma visita não anunciada a Bagdade para contrariar uma "escalada" atribuída ao Irão, suspeito de preparar um "ataque" contra as forças norte-americanas na região.
O mistério pairou durante todo o dia: depois de ter anulado à última hora uma visita a Berlim, devido a "questões urgentes", o chefe da diplomacia dos EUA saiu da Finlândia, onde se encontrava, com destino desconhecido.
"A razão pela qual fomos [a Bagdade] é a informação que indica uma escalada das atividades do Irão", disse Pompeo aos jornalistas que o acompanharam na viagem à capital iraquiana, onde se reuniu com o primeiro-ministro, Adel Abdel Mahdi e o Presidente, Barham Saleh.
Os EUA consideram haver "uma ameaça credível" por parte de Teerão, que justifica a intensificação da sua presença militar na região.
O ultimato do Irão
O impasse pode estar perto do fim. Isto, se os outros países que assinaram o acordo em 2015 aceitarem assinar um novo compromisso. Já esta quarta-feira, o Presidente do Irão deu 60 dias às potências mundiais para se negociar um novo acordo nuclear. Se tal não acontecer, o país retomará o enriquecimento do urânio, e anunciou a redução de compromissos firmados no pacto de 2015.
Hassan Rouhani disse que o Irão quer negociar novos termos com os demais signatários do acordo, mas reconheceu que a situação era grave.
"Se os cinco países se juntarem às negociações e ajudarem o Irão a alcançar benefícios no campo petrolífero e bancário, o Irão retomará os compromissos assumidos no acordo nuclear", garantiu Rouhani.
Nos termos do acordo, o Irão pode manter reservas que não podem exceder mais de 300 quilos de urânio de baixo índice de enriquecimento, um valor muito distante dos dez mil quilos de urânio enriquecido que já possuiu.