"Só não conte a ninguém." Documentário sobre pedofilia leva câmara oculta para dentro da Igreja
Um documentário que relata encontros de padres pedófilos com as vítimas de abusos, da autoria do jornalista polaco Tomasz Sekielski, divulgado no último sábado na plataforma YouTube, contabilizou cinco milhões de visualizações em apenas 32 horas.
Corpo do artigo
O documentário da autoria do polaco Tomasz Sekielski já vai (no momento desta publicação) em mais de sete milhões de visualizações na plataforma Youtube. Além do relato direto e personalizado dos crimes cometidos pelos padres da igreja católica, o documentário coloca em causa a hierarquia episcopal pela fraqueza ou mesmo a ausência de sanções em casos de pedofilia, ao questionar a falta de reação do papa polaco João Paulo II durante a época do seu longo pontificado.
Intitulado "Só não conte a ninguém", o documentário foi filmado, em algumas partes, com uma câmara escondida.
tdEd7hOKTmE
Questionados sobre os crimes de pedofilia, os padres, hoje já muito idosos, pediram perdão pelo seu comportamento, e propuseram mesmo oferecer dinheiro às vítimas. O documentário de Tomasz Sekielski foi lançado oito meses após o filme de ficção "O Clero", que chocou a Polónia, um país católico de 38 milhões de pessoas, e levou à denuncia de vários abusos de padres, inclusive em crimes de pedofilia.
A duas semanas das eleições europeias, o documentário poderá atingir o partido conservador Lei e Justiça (PiS), no poder desde 2015, que tem uma identidade católica e uma aliança com o episcopado.
Sem comentar diretamente o documentário, o líder do PiS, Jaroslaw Kaczynski, disse esta segunda-feira que os autores de agressões sexuais a menores devem ser severamente punidos, tanto os padres como as celebridades, e fizeram alusão, sem referir nomes, ao caso do realizador Roman Polanski.
"Serão severamente punidos aqueles a quem as crianças foram confiadas, o que diz respeito também aos padres, mas preocupa todo o mundo", afirmou o líder do partido conservador, antes de anunciar alterações ao Código Penal "já preparadas" e indicar "sentenças severas, possivelmente até 30 anos de prisão".
Por parte da Igreja Católica, o arcebispo polaco Tomasz Polak reagiu ao documentário, manifestou-se "profundamente comovido" com o que viu e pediu "desculpas por todas as feridas infligidas pelos homens da Igreja". O presidente da conferência episcopal, o arcebispo Stanislaw Gadecki, expressou "emoção e tristeza" perante o trabalho do jornalista Tomasz Sekielski.
No âmbito dos escândalos de pedofilia que afetam muitos países, o Papa Francisco decidiu, na passada quinta-feira, tornar obrigatória a denúncia de qualquer suspeita de agressão sexual à hierarquia da Igreja.