Durão Barroso: «Havia um problema de dignidade institucional» durante os resgates da Troika
Em entrevista à TSF, Durão Barroso reconhece pela primeira vez que houve um problema de dignidade institucional na relação da troika com os países resgatados, porque os funcionários da Comissão Europeia, FMI e Banco Central Europeu discutiam diretamente com governantes.
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O antigo presidente da Comissão Europeia concorda com o atual presidente Jean Claude Juncker, dizendo que é preciso resolver o problema: «Isso é algo que talvez possa ser corrigido. Gostaria que fosse. Quando as missões vão aos países, vão funcionários, são técnicos. E é natural que os governos desses países queiram receber as próprias pessoas. Por isso, havia aqui um problema de dignidade institucional, porque aparecia aos olhos da opinião pública o governo, às vezes até o Primeiro-ministro, a falar com funcionários, que são pessoas sem dúvida muito competentes, mas que não têm a mesma dignidade institucional que tem o responsável democraticamente eleito».
É a primeira vez que Durão Barroso responde às declarações críticas do atual presidente da Comissão Europeia. Jean Claude Juncker reconheceu em fevereiro que a União Europeia e a Troika pecaram contra a dignidade dos povos de Portugal, Grécia e muitas vezes da Irlanda. Admitiu ainda que a troika não tem legitimidade democrática e que as críticas poderiam até parecer "estúpidas" - tendo em conta que ele próprio foi presidente do Eurogrupo - mas que é necessário não repetir os mesmos erros do passado.
Dois meses depois, questionado pela TSF, Durão Barroso sublinha que as decisões foram tomadas por todos os países «no âmbito do Eurogrupo, por unanimidade, por governos de esquerda ou de direita». E lembra precisamente que «o presidente do Eurogrupo era Jean Claude Juncker».
Durão Barroso diz ainda que gostaria que o programa de resgate tivesse sido menos exigente em Portugal, mas acredita que não havia alternativa. «Podemos, claro, discutir se o programa foi ou não foi demasiado exigente. Eu gostaria que tivesse sido menos, mas o dinheiro que os outros países puseram à disposição obrigava a um percurso num determinado período de tempo. E a verdade é que o objetivo do programa foi conseguido», conclui Durão Barroso.
A entrevista de Durão Barroso foi concedida à margem de uma conferência em Roma sobre o crescimento económico dos países do Mediterrâneo, organizada pela consultora EY e vai ser transmitida na íntegra depois das 15h30m, na antena da TSF.