"É difícil prever que François Bayrou vai ter um fim diferente de Michel Barnier"
"Bayrou é uma personalidade muito próxima do Presidente Emmanuel Macron, portanto, foi interpretado pelos líderes das forças políticas como a continuidade do projeto", considera João Carvalho em declarações à TSF
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François Bayrou foi esta sexta-feira empossado como novo primeiro-ministro francês, depois de uma moção de censura ter feito cair Michel Barnier, mas as perspetivas não abonam a favor do novo líder do executivo.
João Carvalho, professor de Política Contemporânea no ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa, antecipa que Bayrou possa ter o mesmo destino do antecessor.
"Bayrou é uma personalidade muito próxima do Presidente Emmanuel Macron, portanto, foi interpretado pelos líderes das forças políticas como a continuidade do projeto do Presidente. Foi recebido com algum ceticismo, tanto por parte da Rassemblement National, como por parte até agora do PCF. Por sua vez, o Partido Socialista Francês apelou ao novo Governo para fazer o uso do artigo 49.3, que permite a aprovação de medidas legislativas sem maioria no Parlamento. É difícil, à partida, prever que François Bayrou vai ter um fim diferente de Michel Barnier", disse à TSF.
O novo primeiro-ministro francês vai ser sempre obrigado a negociar coma oposição: "À partida, François Bayrou poderá tentar negociar com a centro-esquerda a aprovação do orçamento, mas se pensarmos que a Frente de Esquerda e os membros têm um projeto que em si é diferente do projeto macronista - e, aliás, dizem que o projeto macronista foi derrotado nas urnas pelos franceses que querem outro projeto -, portanto, é uma área temática mesmo muito difícil. À partida, existem pontos de contacto, como, por exemplo, François Bayrou sempre foi a favor das eleições proporcionais. Isso é uma questão do dia para tentar desbloquear o impasse político em França, a alteração do sistema eleitoral para as legislativas é uma das soluções e essa medida também foi defendida pela Rassemblement National e pelo Partido Socialista Francês. Nesse ponto, François Bayrou tem pontos de contacto com os partidos que supostamente serão sua oposição."
No entanto, explica João Carvalho, "nas questões de fundo, Bayrou, por exemplo, expressou dúvidas relativamente à reforma das pensões e disse que poderia revisitar essa reforma".
"Não sei se o Presidente Macron estará disposto, mas, por outro lado, Bayrou criticou a aprovação da lei de imigração porque era demasiado dura. Portanto, na questão da imigração, parece-me bastante distante da Rassemblement National, ao contrário de Michel Barnier e do seu ministro do Interior que pareciam bastante próximos. São negociações bastante difíceis, num ambiente pouco consensual de extremismo dos três blocos, portanto, do bloco da esquerda, do bloco do centro e do bloco de extrema-direita, existe uma incapacidade de decidir as suas posições para alcançar consensos", considera o professor de Política Contemporânea.