Ana Lemos é portuguesa, trabalha para os Médicos Sem Fronteiras há quase 20 anos e é diretora geral da organização no Brasil. Sobre a resposta à crise dos refugiados, a situação dramática no Iémen e na República Democrática do Congo, mas também sobre o acidente na barragem de Brumadinho no Brasil, conversou com a TSF.
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Portugal passa a ter a partir desta semana uma representação permanente dos Médicos Sem Fronteiras (MSF). "É uma ideia que existe há muito tempo", admite Ana Lemos, diretora-geral dos MSF no Brasil, alegando que os cerca de oitenta portugueses que trabalham na organização trouxeram experiência e "massa crítica".
Sendo Portugal uma sociedade cosmopolita e multicultural, Ana Lemos espera que muitos profissionais médicos e de enfermagem portugueses participem nas operações humanitárias que a organização leva a cabo em todo o mundo: "esse é um dos principais objetivos" da abertura do escritório que vai ter duas pessoas em permanência: o representante e coordenador da MSF Portugal e uma assessora de imprensa.
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"Atender as pessoas onde elas mais necessitam, nas situações mais vulneráveis", continua a ser o lema da organização na qual trabalham mais de quarenta mil pessoas, em todo o mundo e que foi fundada por médicos e jornalistas em França, nos anos setenta do século vinte.
Ana Lemos lamenta a forma como a Europa foi lidando com a chamada crise dos refugiados: "É incrível como a memória histórica na Europa é tão curta", porque não consegue pensar noutra coisa quando vê os refugiados serem levados para campos "sem o mínimo de condições". Não são campos de concentração, mas são condições tais que, frequentemente, "levam pessoas ao suicídio".
Prioridades atuais dos MSF são por exemplo o Iémen, com "22 milhões de habitantes e 12 milhões em pobreza", carências alimentares generalizadas, ajuda difícil com ambulâncias a serem bombardeadas; "é muito difícil trabalhar sob bombardeios". Ou a República Democrática do Congo com 11 milhões 4 milhões de deslocados, "um país que há que construir quase do nada".
A antiga publicitária não esquece aquilo que viveu há uns anos na Libéria, com a crise do vírus ébola, ao ver mães que "viam os filhos morrer e não lhes podiam tocar nem abraçar". Da experiência de trabalhar em situações humanitárias e de emergência, conflito ou pós-conflito, retira uma aprendizagem profunda, mas sobretudo a ideia de que, "nós, os seres humanos, somos todos iguais".