"É injusto." Chefe da missão diplomática da Palestina desconfortável com palavras de Marcelo
O Presidente da República pediu moderação aos palestinianos, mas não se referiu a Israel. Nabil Abuznaid não gostou de ouvir.
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Marcelo Rebelo de Sousa pediu moderação para que o conflito que se agravou entre o Hamas e Israel possa resolver-se e disse que alguns palestinianos "não deviam ter começado" esta guerra. O chefe da missão diplomática da Palestina em Portugal não gostou de ouvir o Presidente da República responsabilizar apenas um dos lados e não se referir à resposta brutal de Israel e à ocupação dos territórios palestinianos. Para Nabil Abuznaid, o chefe de Estado português não foi justo.
"Se queremos ser justos, temos de condenar a violência dos dois lados, pelo menos, e de condenar a ocupação, essa é a raiz do problema. Se queremos ser justos. E o Presidente repetiu cinco vezes para a imprensa aqui o ataque de 7 [de outubro], mas não mencionou o povo de Gaza. Isto é injusto", declarou Nabil Abuznaid aos jornalistas.
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O chefe da missão diplomática da Palestina em Portugal observou que "a reação foi brutal" por parte das Forças Armadas israelita e defendeu que "a ocupação tem de acabar".
Por fim, Nabil Abuznaid apelou ao fim da guerra: "Temos de parar esta guerra agora, mais pessoas estão a morrer".
Confrontado com o desapontamento manifestado por Nabil Abuznaid, por não ter condenado também a ofensiva militar de Israel na Faixa de Gaza, o Presidente da República reiterou a mensagem que deixou ao diplomata da Palestina: "Desta vez foi um erro monumental começarem."
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Começaram e, portanto, desta vez ficaram responsáveis por aquilo que, do ponto de vista dos moderados, dos palestinianos moderados, é contraproducente".
Interrogado se a reação do chefe da missão diplomática da Palestina o deixa desconfortável, Marcelo Rebelo de Sousa respondeu: "Não, nada, nada. Eu todos os anos estou com ele, ele é uma pessoa muito moderada e, aliás, eu chamei a atenção para a moderação que ele tem e que deve ter a Autoridade Palestiniana, porque tem interesse nessa moderação".
O chefe de Estado referiu que Nabil Abuznaid "já cá está há muito tempo e sabe que a posição portuguesa não sai daquilo que é a posição das Nações Unidas" nesta matéria, a favor de dois estados, de Israel e da Palestina, "que Portugal apoia, é uma posição portuguesa desde sempre".
Israel não tem banca nesta edição do Bazar Diplomático que começou esta sexta-feira em Lisboa, nem os Estados Unidos da América.
O grupo islamita Hamas, classificado como terrorista pela União Europeia e pelos Estados Unidos da América, que controla a Faixa de Gaza, lançou a 7 de outubro um ataque sem precedentes em território israelita, no qual matou e raptou militares e civis, incluindo crianças.
Segundo o governo israelita, o Hamas fez mais de 1400 mortos em Israel e levou cerca de 220 reféns, dos quais quatro foram entretanto libertados. As forças armadas de Israel responderam ao ataque do Hamas com bombardeamentos e o corte do abastamento de água, comida, eletricidade e combustível à Faixa de Gaza, onde vivem mais de dois milhões de pessoas, avisando a população do enclave de que estaria em perigo se não se deslocasse para sul.
As autoridades da Faixa de Gaza reportam mais de 9000 pessoas mortas pelos bombardeamentos israelitas, entre as quais mais de 3000 crianças.