"É o falhanço da humanidade, pessoas tratadas como mercadoria", diz Amnistia Internacional
Os migrantes requerentes de asilo e que entram ilegalmente no Reino Unido vão ser transportados de volta ao Ruanda. A Amnistia Internacional em Portugal defende que estamos perante uma violação de direitos humanos.
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O Reino Unido realiza, esta terça-feira, o primeiro voo que leva de regresso ao Ruanda os migrantes requerentes de asilo e que entram ilegalmente no país. O plano do Governo britânico passa por reenviar homens solteiros que chegam ao Reino Unido provenientes do outro lado do Canal da Mancha em pequenas embarcações. Se o processo for bem-sucedido, os migrantes ficarão no Ruanda.
Pedro Neto, diretor executivo da Amnistia Internacional em Portugal, diz que estamos perante uma violação de direitos humanos e um falhanço da humanidade. "No processo do Brexit, faltou salvaguardar estas questões. Agora o Reino Unido e Boris Johnson faz o que quer e, como está a ser pressionado no seu cargo, é normal que procure medidas populistas para poder alavancar de novo. O que está aqui em causa é o falhanço da humanidade, pessoas a serem tratadas como se fosse mercadorias e a devolver pessoas que saíram do Ruanda porque estavam em perigo. Assim, pediram asilo, como prevê o direito internacional e esses pedidos estão a ser recusados, sem uma análise individual e estão a devolver estas pessoas. É como se estivéssemos a falar de mercadoria e não de seres humanos."
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De acordo com o plano anunciado por Boris Johnson, esta medida faz parte de uma nova estratégia de combate à imigração ilegal e aos grupos criminosos que a apoiam. Para Pedro Neto, as autoridades europeias falharam. "Um processo destes não pode ter lugar para negociar com os países, uma pessoa se chega de forma legal ou ilegal não depende de si. O que o governo de Boris Johnson e as autoridades têm que ver é que é preciso analisar caso a caso e depois então decidir o que fazer."
A Amnistia Internacional teme que outros países possam seguir os passos do Reino Unido e diz que já existem sinais preocupantes. "Há outros líderes políticos que já usam a questão dos refugiados e migrantes como moeda de troca, nomeadamente a Turquia com a União Europeia, em que há até acordos de trocas de pessoas. Também temos crises na fronteira do México com os EUA. Estes líderes políticos como Boris Johnson, entre outros, falam apenas do problema da segurança nas fronteiras, mas não há aqui uma ajuda para tratar o problema na origem e reduzir estes fenómenos migratórios."
Mais de 160 organizações não governamentais já classificaram a medida do governo inglês como "cruel e mesquinha". De acordo com o governo britânico, 32 imigrantes devem ser levados para Ruanda esta terça-feira e já há mais voos previstos para os próximos meses.