"É prematuro que os países da UE suspendam os pedidos de proteção de cidadãos sírios"
À TSF, o diretor-geral do Serviço de Jesuítas aos Refugiados afirma que "não há nenhuma garantia de que o regime que vá a ser instalado defenda e garanta a proteção dos direitos das pessoas"
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O diretor-geral do Serviço de Jesuítas aos Refugiados, André Costa Jorge, considera que é permaturo que os países europeus estejam a travar os pedidos de asilo feitos por cidadãos sírios na sequência da queda do regime de Bashar al-Assad.
"Também me parece uma precipitação por parte de alguns dos países europeus em suspenderem, tendo em conta que aquilo que suportaria os pedidos de asilo era que as pessoas eram perseguidas pelo regime que entretanto caiu. Naturalmente, não há nenhuma garantia de que o regime que vá a ser instalado defenda e garanta a proteção dos direitos das pessoas, dos direitos de cidadania e também a mudança do regime poderá não significar propriamente com as pessoas de lá possam regressar e que as pessoas regressando não sejam também alvo de violência e de perseguição, porque não sabemos exatamente de que modo os posicionam as forças que entretanto tomaram o poder e, portanto, para já, eu creio que é prematuro que os países da União Europeia suspendam os pedidos de proteção que os cidadãos sírios possam estar a fazer na Europa", disse à TSF André Costa Jorge.
O diretor do Serviço de Jesuítas aos Refugiados refere que já há movimentações migratórias: "Para já, parece estar a haver um influxo de cidadãos sírios que estavam nos países vizinhos da Síria, na Turquia, no Líbano e eventualmente também no Egito. E, portanto, pode haver aqui um, digamos, um movimento de regresso à Síria de parte dessas pessoas. De qualquer das formas, muitos dos cidadãos sírios que se encontram já na Europa devem estar a aguardar por desenvolvimentos, o que me parece ser a atitude mais prudente e sensata."
Quanto aos sírios que vivem em Portugal, segundo André Costa Jorge, "manifestaram reserva num regresso imediato".
"Sabendo também que quem toma o poder na Síria serão grupos de guerrilha, grupos armados, sabemos muito pouco sobre aquilo que pretendem e o que sabemos não nos deixa grande margem para as melhores expectativas e, portanto, pondo-me um pouco na pele dos sírios, há uma enorme alegria e satisfação pela queda do regime, mas há também muita surpresa e, por outro lado, há uma expectativa, quer pela forma como o regime caiu, a rapidez com que regime caiu, quer expectativa para perceber quais serão os desenvolvimentos", considera.
E remata: "Da minha parte, diria que toda a cautela é pouca, porque os indícios que se tem não vão no sentido de que seja instaurado um sistema democrático, tolerante e pluralista. De qualquer forma, faço votos para que os novos governantes, novos senhores da Síria, tenham o povo em primeiro lugar e que o novo regime possa dar passos no sentido da proteção de garantia de que os direitos humanos serão observados e de que se possa instaurar um Estado de direito, onde as liberdades e as garantias que todos os cidadãos possam ser respeitados."
A Suécia, a Suíça, a Dinamarca, a Noruega e o Reino Unido anunciaram esta segunda-feira a suspensão da análise dos pedidos de asilo de refugiados sírios, na sequência da queda do regime do Presidente sírio, Bashar al-Assad.