A aplicação do século XXI está a ser usada para revelar aos jovens o que aconteceu na II Guerra Mundial. A iniciativa aproveita o diário de Eva Heyman, conhecida como a Anne Frank húngara.
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A iniciativa partiu de um milionário israelita e da filha. Mati Kochavi e Maya estão preocupados com o facto de os jovens do século XXI saberem pouco sobre o holocausto. Os dois quiseram aproveitar o tempo que esses jovens estão online para lhes fornecerem dados corretos sobre a História.
Eva.stories está, desde esta quarta-feira, disponível no Instagram. Ao todo serão cerca de 70 pequenos vídeos baseados no diário que a jovem escreveu nos últimos meses de vida até à morte no campo de concentração de Auschwitz.
Tudo começa a 13 de fevereiro de 1944, quando Eva se torna uma 'teenager'. As imagens foram gravadas na Ucrânia e, apesar de serem a cores, retratam os anos 40. São retratos momentos de alegria vividos por Eva até a chegada dos tanques alemães, passando pela vida no gueto, deportação e assassinato dos judeus húngaros.
Na primeira publicação, Eva conta que vive com os avós e que "os tanques nazis conquistaram a maior parte da Europa e estão a fazer coisas terríveis aos judeus, mas ainda não chegaram até nós". Apesar da guerra, a jovem declara-se otimista.
Eva Heyman nasceu em 1931 e morreu em outubro de 1944. Era a filha única de um casal judeu húngaro cosmopolita. Ela cresceu numa cidade na fronteira entre a Roménia e a Hungria, onde quase um quinto da população era judia. Eva era ainda pequena quando os pais, Agi e Bela, se divorciaram e a menina foi morar com os avós. Depois do divórcio, Eva viu pouco a mãe, que se casou novamente e se mudou para Budapeste. Também raramente via o pai, que morava do outro lado da cidade.
Quando os alemães chegaram a Budapeste, a 19 de março de 1944, Eva e o avô deram um passeio no Parque do Bispo de Oradea, mas não viram nenhum soldado alemão. Seis semanas depois, os alemães chegaram à cidade e ordenaram que Eva e os avós se mudassem para o gueto. Eva escreveu então no diário: "Tens muita sorte porque não podes sentir, não podes ver como algo de terrível nos aconteceu. Chegaram os alemães."
Já a viver numa casa superlotada no gueto, Eva explica ao "amigo" como passou a ser obrigatório usarem uma estrela amarela no casaco. Eva conta que "a ordem que nos foi dada [e] até diz o tamanho exato que essa estrela deve ter". Qualquer desobediência significava a morte.
A última entrada no diário é do dia 30 de maio de 1944. "Querido diário, eu não quero morrer. Quero viver mesmo que seja a ultima pessoa a ficar aqui. Posso esconder-me até ao fim da guerra numa cave, num sótão ou em qualquer outro esconderijo, desde que não me matem, que me deixem viver. Não posso escrever mais, querido diário, as lágrimas estão a chegar. "
Três dias depois, Eva foi deportada para Auschwitz e morreu quatro meses depois, com 13 anos.
A mãe de Eva, Agnes Zsolt, foi enviada para Bergen-Belsen e foi libertada pelas tropas aliadas em 1945. Ela regressou à terra natal à procura da filha e foi-se apercebendo que Eva não ia regressar. Foi ela que encontrou o diário e descobriu o que tinha acontecido à filha.
Eva foi enviada para a câmara de gás por Joseph Mengele: "Uma médica de bom coração tentou esconder a minha filha, mas Mengele encontrou-a sem esforço. Os pés de Eva estavam cheios de feridas. "Agora olha para ti", gritou Mengele, "és um sapo, os teus pés estão sujos, cheiram a pus! Vais já para o camião!" Ele transportou aquilo que considerava material humano para o crematório em camiões amarelos. Testemunhas oculares disseram-me que foi ele mesmo que a empurrou para dentro do transporte."