Eleições em França: União Nacional vence. Liberais e esquerda unidos pedem que franceses não deem "nem um único voto" à extrema-direita
A União Nacional, de Marine Le Pen, terá obtido 34% dos votos dos franceses. Acompanhe ao minuto na TSF
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O Presidente francês, Emmanuel Macron, pediu "uma união ampla claramente democrática e republicana" contra a extrema-direita na segunda volta das legislativas, em face da ampla vitória desta apontada pelas primeiras projeções.
O primeiro-ministro francês e candidato pela coligação presidencial, Gabriel Attal, apelou hoje aos eleitores para que não deem "nem um único voto" ao partido de extrema-direita União Nacional, que ficou à frente na primeira volta das eleições legislativas.
"Digo isto com a força com que apelo a todos e a cada um dos nossos eleitores, nem um voto deve ir para a União Nacional, nestas circunstâncias, a França merece que nunca hesitemos", disse Gabriel Attal, numa intervenção após a projeção dos resultados das eleições legislativas, em Paris.
Segundo o primeiro-ministro, o desafio na segunda volta das eleições legislativas, no próximo domingo, 07 de julho, é "privar a extrema-direita de uma maioria absoluta", para que seja constituída uma Assembleia Nacional em que o seu partido possa ter "peso suficiente para construir maiorias de projetos e ideias entre as forças republicanas".
Os dirigentes da Nova Frente Popular Jean-Luc Mélenchon e Olivier Faure anunciaram hoje que vão retirar as suas candidaturas nas circunscrições em que ficaram em terceiro lugar e onde existe risco de ganhar a extrema-direita francesa.
"A nossa estratégia é clara: nem um voto a mais, nem um deputado a mais para a União Nacional", disse Jean-Luc Mélenchon, líder do movimento de extrema-esquerda França Insubmissa, que forma a Nova Frente Popular juntamente com os socialistas, os comunistas e os ecologistas, numa primeira reação às projeções dos resultados das legislativas em França.
O líder da União Nacional, Jordan Bardella, apelou hoje à mobilização dos eleitores para a segunda volta das legislativas, salientando que vai ser uma "das mais determinantes da história" e que os franceses deram este domingo um "veredicto indiscutível".
"Os franceses, três semanas depois das eleições europeias, deram um veredicto indiscutível e mostraram claramente que querem uma mudança", afirmou Jordan Bardella num discurso no pavilhão Wagram, no 17.º bairro de Paris.
Marine Le Pen, líder da União Nacional (RN), de extrema-direita, regozijou-se este sábado com o resultado do seu partido nas legislativas antecipadas em França, bem à frente do campo do Presidente Emmanuel Macron, considerando-o "praticamente aniquilado".
Os franceses mostraram "o seu desejo de virar a página de sete anos de poder desdenhoso e corrosivo" do chefe de Estado Emmanuel Macron, disse Le Pen, eleita na primeira volta no seu círculo eleitoral no Norte.
O "bloco macronista" foi "praticamente aniquilado", afirmou a líder do RN, apelando ao povo francês para que dê ao partido de extrema-direita "uma maioria absoluta".
As primeiras projeções das eleições legislativas em França dão a vitória à União Nacional, de extrema-direita, com 34% dos votos. Em segundo lugar aparece a Nova Frente Popular, coligação que junta vários partidos de esquerda, com 28%. A coligação de Macron, Juntos, aparece apenas no terceiro lugar, com 20% dos votos.
A taxa de participação nas eleições legislativas francesas registava este domingo um forte aumento às 12h00 locais na França continental (11h00 em Lisboa), atingindo 25,90%, contra 18,43% à mesma hora em 2022, revelou o Ministério do Interior.
Em 1997, aquando das últimas eleições legislativas antecipadas, era de 22,74% ao meio-dia.
A participação na primeira volta das legislativas de hoje em França alcançou, às 17:00, 59,39%, uma diferença de quase 20 pontos percentuais acima da registada à mesma hora nas legislativas de 2022, segundo dados do Ministério do Interior.
Em 2022, às 17:00, a participação registada era de 39,4% e, no final da jornada eleitoral, ficou-se pelos 47,51%.
Quando faltam cerca de três horas para o encerramento das urnas, o instituto Ipsos divulgou uma estimativa de participação total de cerca de 67,5%.
A elevada participação dos eleitores parece refletir o ambiente de grande agitação face às sondagens que apontam para uma vitória da União Nacional (RN, extrema-direita) de Marine Le Pen e Jordan Bardella.
A embaixadora de França em Portugal, Hélène Farnaud-Defromont, considerou este domingo as eleições legislativas francesas antecipadas "muito importantes para a democracia" do país e para "o futuro da Europa", prevendo uma alta participação de eleitores.
"Estas eleições são muito importantes para democracia francesa, para o futuro do país e para o futuro de Europa", salientou a diplomata no Liceu Francês Charles Lepierre de Lisboa, onde decorre o ato eleitoral da primeira volta na capital portuguesa.
Os eleitores do 20.º bairro de Paris, o mais à esquerda da capital, começaram este domingo a deslocar-se às urnas divididos entre o receio com o crescimento da extrema-direita e críticas à dissolução da Assembleia Nacional decidida por Emmanuel Macron.
"Tenho medo que estas eleições vão atirar a França para os braços da extrema-direita, mais do que para a instabilidade política. Ainda não percebi porque é que o Macron decidiu dissolver a Assembleia Nacional: só ajudou a extrema-direita. Já tinham vento nas velas e só lhes deram mais um empurrão para chegarem à meta", diz à Lusa Laurent, de 41 anos.
Laurent é um entre as dezenas de eleitores que, desde as 08h00 (07h00 de Portugal continental), começaram a convergir para o liceu Voltaire, no 20.º bairro de Paris, numa manhã de sol que contrasta com a chuva que se abateu sobre a cidade no sábado e que parece estar a incentivar os eleitores a ir às urnas.
As assembleias de voto abriram este domingo às 08h00 (07h00 em Lisboa) em França para a realização da primeira volta das eleições legislativas marcadas em 09 de junho pelo Presidente Emmanuel Macron.
Com os primeiros resultados esperados por volta das 20h00 (19h00 em Lisboa), esta eleição poderá abalar o panorama político francês e abrir caminho para que a extrema-direita chegue ao poder dentro de uma semana.
Após a abertura das urnas em territórios ultramarinos como São Pedro e Miquelon, São Bartolomeu, São Martinho, Guadalupe, Martinica, Guiana, Polinésia Francesa - aliás, a Nova Caledónia encerrou no sábado as assembleias de voto com um aumento da afluência após os protestos de há algumas semanas -, bem como em embaixadas e consulados no continente americano, é a vez, este domingo, da França continental, onde 49,5 milhões de eleitores estão inscritos para votar.
As mais recentes sondagens, publicadas na sexta-feira, último dia de campanha eleitoral, davam conta de uma subida da extrema-direita, que poderá obter 37% dos votos, juntamente com os seus aliados conservadores.
Em segundo lugar, a nova Frente Popular, que reúne os partidos de esquerda, obteria 28% dos votos. Já a maioria cessante do Presidente francês acentuaria a sua queda, situando-se nos 20%.
Os Republicanos (LR), o partido tradicional de direita, registou uma cisão liderada pelo seu presidente, Éric Ciotti, que se aliou a Marine Le Pen e a Jordan Bardella, do RN.
Se a vitória da extrema-direita nestas eleições parece certa, já o cenário pós-eleições gera mais dúvidas: caso não haja maiorias claras e se os partidos falharem acordos para uma coligação governamental, pode verificar-se um impasse, uma situação inédita em França.
Um cenário que poderia prolongar-se até julho de 2025, já que Macron não poderia voltar a convocar eleições legislativas no período de um ano.
Caso outras forças políticas consigam formar governo, instala-se um regime de 'coabitação', em que o executivo pode implementar as suas propostas, eventualmente desviando-se da política do Presidente.
Mesmo desafiado por Marine Le Pen a demitir-se caso a extrema-direita vença as eleições, Macron já garantiu que o seu mandato é para cumprir até ao fim, em maio de 2027.
Os franceses são chamados este domingo a votar em legislativas antecipadas, numas eleições que serão marcadas pela subida da extrema-direita e que podem mergulhar França num cenário de instabilidade.
Nestas eleições estão em causa os 577 lugares da Assembleia Nacional (parlamento). Caso nenhum partido consiga hoje mais de 50% dos votos (ou seja, pelo menos 289 eleitos) - um cenário provável -, haverá uma segunda volta, já marcada para o próximo domingo, dia 07 de julho.
As legislativas, que deveriam acontecer apenas em 2027, foram convocadas de forma surpreendente pelo Presidente francês, Emmanuel Macron, após a derrota do seu partido (Renascimento) e a acentuada subida da União Nacional (RN, de extrema-direita), nas eleições para o Parlamento Europeu de 09 de junho.
O investigador principal do ISCTE e especialista em política francesa, João Carvalho, antecipa à TSF um cenário de tensão entre os mais altos cargos e instituições se se confirmar a vitória da extrema-direita.
"Conflito institucional entre o Presidente e o Governo, entre o Governo e a Comissão Europeia - porque muitas das promessas da extrema-direita vão contra os tratados europeus - e um nível de aumento do conflito social dentro da sociedade francesa muito grande porque esta vitória irá legitimar as forças mais extremistas dentro da sociedade francesa que terão mais força para fazer atos extremistas do que no passado", explicou João Carvalho.
O especialista aponta Emmanuel Macron como um dos principais derrotados destas eleições. Entende que a decisão de dissolver a assembleia nacional foi um erro político.
"Revela falta de cultura política por parte de Macron e falta de humildade política porque já anteriormente outros governos foram fortemente sancionados nas eleições europeias sem convocar eleições presidenciais e esta parece-me uma decisão que acaba por abrir as portas do Governo à extrema-direita. O que se revela é que, contrariamente à narrativa de Macron, o que se assiste hoje na sondagem é a extrema-direita ou a extrema-esquerda. Macron desaparece desta dicotomia que ele próprio criou e que acaba por revelar um fracasso político. Macron atravessa uma crise de popularidade enorme, existem grandes segmentos da população francesa que o detestam", acrescentou o investigador.
