A decisão dos norte-americanos, em novembro do próximo ano, vai determinar o futuro das políticas de migração. E também o rumo político de países como a Bolívia, Venezuela ou México.
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A mão de Trump é pesada e dá fortes murros na mesa da América Latina. As ameaças, bluffs e declarações do presidente norte-americano têm posto a região numa tensão constante nos últimos quatro anos.
O México, Honduras, El Salvador e Guatemala, por exemplo, vivem sob ameaça constante de sanções políticas e económicas por causa do tema migratório. Na Venezuela, o apoio dos Estados Unidos ao governo de Juan Guaidó criou um país bicéfalo e agravou o impasse político. Também na Bolívia, os apoiantes de Evo Morales acusam Donald Trump de ter provocado um golpe de Estado que mergulhou o país no caos. E há Cuba.
Em entrevista à TSF, a analista mexicana Ana Esther Ceceña não tem dúvidas: os Estados Unidos estão de novo a abalar as democracias da América Latina. E as coisas não estão a correr bem. "Há um atentado contra a democracia na América Latina, e uma imposição do autoritarismo da política de Washington de reordenar e controlar novamente o continente."
Para a diretora do Centro de Estudos Geopolíticos da Universidade Nacional Autónoma do México, há um braço-de-ferro em curso na região. "Estão a atravessar-se no caminho a China, a Rússia, e isso é algo inaceitável desde o ponto de vista dos interesses estratégicos dos Estados Unidos na América Latina."
Os interesses norte-americanos na região são velhinhos. Entre democratas ou republicanos, considera Ana Esther Ceceña, só a maquilhagem muda. "Talvez tenham estilos diferentes, mas a política de estado [para a América Latina] está acima de qualquer governo que circunstancialmente ocupe a cadeira presidencial."
Os "bad hombres", como Trump chamou várias vezes aos mexicanos e latinos em geral, estão de olho na campanha que aí vem. A ameaça do presidente de expulsar milhões de "sem papéis" nunca se concretizou, mas plantou a incerteza e o medo. A migração vai ser de novo um tema quente da campanha.
As eleições presidenciais nos Estados Unidos estão marcadas para terça-feira, 3 de novembro. O próximo inquilino da Casa Branca pode esticar ainda mais a corda na relação da América Latina com os Estados Unidos. Ou provocar um respiro de alívio. Ainda que ilusório.