Eleições EUA. “A prioridade é que a Europa tenha um interlocutor que não a prejudique”
Sebastião Bugalho afirma que a relação com os EUA após as eleições precisará de uma “larga dose de pragmatismo”
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O eurodeputado Sebastião Bugalho afirma que a União Europeia terá de se manter como “interlocutor” dos Estados Unidos, independentemente de Donald Trump vir a ocupar, novamente, a Casa Branca, após as eleições presidenciais. Em entrevista à TSF, o eurodeputado considera que a União Europeia deve desenvolver uma política de defesa que não esteja à mercê dos ciclos eleitorais americanos.
“Independentemente de quem ganhe as eleições norte-americanas, uma coisa é certa: nós teremos de continuar a ser interlocutores dos Estados Unidos da América”, enfatiza o eurodeputado, considerando que “o desenvolvimento da União para a Defesa (...) não pode estar dependente do resultado eleitoral”.
“Os Estados Unidos da América têm eleições de quatro em quatro anos, [e] nós não podemos mudar de política de defesa de meio mandato em meio mandato”, sublinhou Sebastião Bugalho, considerando que fazer depender do ciclo político americano medidas que a União Europeia “tem mesmo de tomar” seria “inconcebível”.
No entanto, o político reconhece que as consequências do resultado eleitoral ao nível da relação transatlântica são algo que “preocupa”, embora lembre que, quando se trata de questões de política externa, deve imperar “o pragmatismo”, colocando de parte questões ideológicas.
“Necessariamente que me preocupa e que me entristece que a primeira república constitucional do planeta esteja entregue à possibilidade de uma presidente que, como vice-presidente, não mostrou qualidades para ser presidente, apesar de na campanha necessariamente estar a mostrar outra faceta, o que é natural; e de um candidato ou recandidato a presidente que não reconheceu o seu próprio resultado eleitoral quando perdeu a eleição”, destacou Sebastião Bugalho.
Lembrando o seu papel de membro da Comissão de Negócios Estrangeiros no Parlamento Europeu, o eurodeputado frisou que a relação com os Estados Unidos “é algo que lhe interessa enquanto democrata”.
“Quando estamos numa comissão de assuntos externos ou de política externa, ou de negócios estrangeiros, temos de ter noção de que a diplomacia não envolve estados de alma, não envolve partidos, não envolve ideologia, envolve o interesse da comunidade política que servimos e envolve uma larga dose de pragmatismo”, sublinhou Sebastião Bugalho, assumindo que a sua “prioridade, no dia a seguir às eleições, será certificar-se de que a Europa tem um interlocutor que não a prejudique”.
Ucrânia e defesa
Em matéria de defesa, o deputado considera que a discussão tem de caminhar lado a lado com a necessidade de fazer crescer a economia europeia e estimular o investimento.
“Acho que, fundamentalmente, seria um erro para a União Europeia, para os eurodeputados e para a nova Comissão, se nós tivéssemos a discussão sobre a necessidade de investimento e crescimento económico separada da necessidade de segurança e estabilidade na Europa, de paz”, afirmou.
“Se nós não conseguirmos garantir que a guerra na Ucrânia tenha uma saída pacífica e duradoura — isto é, que a paz, depois da guerra, não seja uma paz russa, que seria necessariamente instável e de curto prazo, mas sim uma paz nos termos ucranianos, ocidentais e europeus — se não encararmos essa paz, essa nossa paz, como prioridade, obviamente que todas as outras prioridades que vimos falando separadamente da questão da guerra [serem postas em causa] (...) e nenhum continente será destino de investimento ou capaz de crescimento económico se estiver sob a ameaça de uma superpotência imperial na sua fronteira.”
“Como é que nós vamos conseguir o investimento que queremos, concluir a União de Mercado de Capitais, concluir a União Bancária, com o propósito de termos mais investimento, mais estabilidade financeira e orçamental, se não tivermos estabilidade do ponto de vista da segurança e da paz no continente? Separar as duas discussões seria um erro”, vincou.