O Presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, ameaça com prisão imediata quem não aceitar os resultados das eleições municipais, que se vão realizar no próximo dia 8 de Dezembro.
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«O primeiro que não reconheça os resultados das eleições e tentar gerar violência vai diretamente para a prisão e vai pagar caro, muito caro. (...) Vou ser duro, que o saibam os parasitas e burgueses», afirmou o Presidente venezuelano numa alocução ao país transmitida pela televisão estatal.
Mergulhado numa crise económica sem precedentes, largamente agravada após a morte de Hugo Chávez, o país vive à míngua de bens essenciais, desde medicamentos ao papel higiénico, passando pelo leite, e praticamente todos os demais produtos do cabaz familiar.
Não espanta, por isso, que o quotidiano da população seja marcado por inflação galopante, «corrupção, criminalidade, desemprego e filas intermináveis para adquirir produtos do cabaz básico», conforme denuncia, a FEVEPEP (Federação Venezuelana Portuguesa de Empresários e Profissionais), associação que defende poderes especiais para que o Presidente Maduro possa legislar por decreto, de forma a garantir a estabilidade económica e democrática da Venezuela.
Efetivamente, no início de Outubro Nicolás Maduro pediu à Assembleia Nacional a aprovação de uma lei especial que lhe conceda poderes reforçados por 12 meses para, segundo o próprio, legislar por decreto em matéria económica, «contra a corrupção e para tornar irreversível o socialismo». Mas para conseguir este objetivo o sucessor de Chávez terá de conseguir uma maioria de três quintos na Assembleia Nacional, o que se afigura muito difícil uma vez que o PSUV, partido que o apoia, apenas dispõe de 95 lugares num hemiciclo de 165 deputados.
8 de Dezembro "dia da lealdade e amor"
Depois de "antecipar" o Natal para Novembro, Nicolás Maduro determinou, num decreto presidencial datado de ontem, que o dia 8 de Dezembro passe a ser o «dia da lealdade e do amor» a Hugo Chávez, e apela ao povo e às instituições que «honrem com ação e pensamento a herança e o legado universal do máximo líder da revolução bolivariana».
Coincidindo com o dia das eleições autárquicas em todo o país, o decreto presidencial exorta a nação para que no dia 8 de Dezembro realize «atos e eventos comemorativos em todo o território nacional que exaltem o seu (Chávez) pensamento bolivariano, o amor infinito para com o seu povo, a defesa permanente do seu legado e o seu exemplo infinito.»
«Isto é um ato de intromissão clara do poder executivo com atos em todo o país de celebração, quando se está realizando uma jornada eleitoral», disse o reitor do Conselho Nacional Eleitoral, Vicente Díaz, condenando o decreto, que classificou como «um ato de manipulação».
Por todo o país crescem as manifestações de protesto à gestão de Nicolás Maduro, com a oposição liderada pelo derrotado candidato presidencial Henrique Capriles - governador do poderoso Estado de Miranda - a acusar o sucessor de Hugo Chávez de incompetência e de intoxicação e manipulação permanente da opinião pública através dos meios de comunicação estatais.
Nos meios políticos independentes generaliza-se a convicção de que Nicolás Maduro pretende que as eleições municipais de 8 de Dezembro se convertam num plebiscito popular à sua política, toda ela suportada numa retórica de permanente invocação à figura de Hugo Chávez, falecido em 5 de Março passado, depois de uma dura batalha de dois anos contra um cancro.