Elisa Ferreira diz que fuga de cérebros, esvaziamento de terras e sensação de abandono são combustível para populismos
A coesão como arma para combater populismos, bem como a atração que os jovens sentem atualmente por partidos mais extremistas e nacionalistas, ideia defendida pela comissária portuguesa na Cimeira Europeia das Regiões e Cidades, em Mons, na Bélgica.
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A Comissária Europeia para a Coesão e Reformas admite que regiões votadas ao abandono são combustível para os populismos e extremismos: “vamos publicar no nono relatório, mas já tínhamos detectado em trabalhos anteriores. É que as regiões em que há uma estagnação durante algum tempo ou durante bastantes anos, ou que entram em declínio, têm uma propensão maior para votarem e para se definir em anti-democracia, anti-Europa, enfim, ‘anti-mesmo’ que quando o ‘anti’ não quer dizer que tenham um programa alternativo ou uma ideia alternativa mas votam contra num sentido de revolta. Podemos pensar em regiões que vão perdendo os seus melhores, têm aquilo a que normalmente se chama ‘brain drain’, quer dizer, a perda dos cérebros; as pessoas investem nos filhos, investem na formação, na educação e depois esses jovens vão embora e os territórios vão ficando cada vez mais envelhecidos, cada vez mais esvaziados de gente. E isto, normalmente, cria uma sensação de abandono e essa sensação é muito má, portanto, e nós deveremos apostar no desenvolvimento de todos os territórios, porque precisamos de todos para ter mais riqueza colectiva”.
A política de coesão, na opinião da Comissária e ex-ministra socialista, “não é uma política de caridade, é uma política para criar condições para que em todos os territórios e, naturalmente, não estamos a falar de uma lógica estritamente local, mas no papel que podem ter as cidades médias, que podem ter até algumas aldeias e zonas mais afastadas das grandes metrópoles. E isso é importante para o país, é apostar no seu desenvolvimento, em que elas retenham aquele mínimo de serviços públicos que são essenciais para reter uma população e para que os jovens optem por escolher esse local, o que também requer que, de facto, as empresas reconheçam as valias desses territórios onde há menos custos de congestionamento e de poluição, onde através da rede de Internet se consegue ligar e estar em contato com os grandes centros do mundo. Portanto, há que pensar os territórios de uma forma reequilibrada.
A Habitação, esse problema que não é um exclusivo nacional: “os preços das casas muitas vezes transformam-se em preços absolutamente incomportáveis e insuportáveis e, portanto, as próprias populações mais jovens que vão à procura de uma oportunidade para esses territórios acabam por ficar frustradas e também elas se revoltam contra o sistema”.
Como não pode haver tudo em todo o lado, os territórios devem ser pensados de forma estratégica: ”não é possível ter, por exemplo, uma universidade em cada cidade ou em cada município, ter um grande hospital central em cada município. Isso é impensável e, portanto, é preciso pensar numa forma de, numa forma de reequilíbrio territorial e o que nós chamamos de multipolar. Nós, a nível da Comissão, temos tentado efetivamente estimular os países, porque o objetivo de um desenvolvimento equilibrado do território tem de ser partilhado com os países, mas é para isso que existem as transferências de fundos”.
A Comissão prepara o nono relatório sobre política de coesão… Elisa Ferreira, em entrevista aos jornalistas portugueses aqui em Mons, na Bélgica, na Décima Cimeira Europeia das Regiões e Cidades.
O repórter viajou a convite do Comité Europeu das Regiões