Milhares de pessoas saíram esta tarde às ruas de Barcelona, para protestarem contra a independência e manifestarem o seu apoio a uma Espanha unida. Segundo a organização, foram "mais de um milhão" .
Corpo do artigo
"Quero simplesmente saudar todas aquelas pessoas, que não vejo, e que estão na Via Laietana, la Plaza Catalunya e a preencher todas as ruas de Barcelona. Os números são de mais de um milhão de pessoas", gritou o presidente da Sociedade Civil Catalã, Mariano Gomà.
"Viva a Espanha e viva a Catalunha" foi uma das frases que mais se ouviu. Entre o vermelho e amarelo comum nas bandeiras de Espanha e da Catalunha, agitadas durante o desfile, a atmosfera muda. Ora parece uma romaria, com ar festivo e pessoas a dançar, ora assume a fúria de um protesto.
"Espanha não resolverá os seus problemas até pôr na prisão a todos os culpados deste golpe de Estado, que há muitos anos que está a ser preparado", atirou um dos manifestantes, quando questionado sobre o que o levava a gritar esta tarde, nomeando "Puigdemont, Oriol Junqueras, Artur Mas", como os "cabecilhas" que devem ser "levados à justiça e à prisão".
"Puigdemont para a prisão" tornou-se uma palavras de ordem. Outra, simplesmente "traidores", dirigida aos "Mossos de Esquadra", a polícia autonómica, à qual o tribunal atribuiu uma atitude de "passividade" por não ter impedido o funcionamento dos colégios eleitorais, no dia do referendo.
No meio do clima mais aceso, há uma manifestante que pede moderação de parte a parte. "Creio que o governo espanhol e o governo catalão têm de baixar as posturas e tentar dialogar, para o bem de todos, porque a sociedade catalã está a dividir-se muito", nota uma estudante de Química, lamentando que as divisões estejam a atingir "muitas famílias e muitos amigos".
"Tenho amigos que são independentistas. Dialogamos, mas também discutimos e é uma pena", confessa enquanto ajeita uma bandeira de Espanha que lhe cobre as costas.
Viva a Virgem de Zaragoza
Uma mulher canta apenas Viva a Espanha, até ser questionada pela TSF sobre a forma como está a viver estes dias. "Eu sou espanhola, como a virgem de Zaragoza. E, a virgem de Zaragoza mandou-me um recado: não quer ser independente, quer ser espanhola", ironiza.
"Viva também ao Rei"
A encerrar a manifestação, o presidente da Sociedade Civil Catalã, Mariano Gomà dirigiu-se aos defensores da integridade do território Espanhol, que estiveram presentes na manifestação, agradecendo a todos, incluindo às estruturas de polícia.
"Temos de agradecer a todas as forças de segurança do Estado. A todas elas. Incluindo aos que recebem más ordens. Sem eles não teríamos apoio e segurança. Obrigado a todos eles pela entrega", disse, sem nunca mencionar as cargas policiais que ocorreram no dia do referendo.
TSF\audio\2017\10\noticias\08\joao_francisco_guerreiro_19h
O homem que tem estado na linha da frente contra a independência disse ainda que o silêncio terminou e, "neste momento, sabemos que nunca mais estaremos nas trincheiras. Estaremos na rua".
Seguiram-se "Vivas a Espanha, Viva a Catalunha", e também vivas à Europa. Mas, o presidente da Sociedade Civil da Catalunha deu o discurso por terminado, quando citou o Rei: "nunca mais estaremos sós".
Passaram-se uns minutos, já com os manifestantes a abandonar o local, Mariano Gomà lembrou-se que alguma coisa faltava discurso e voltou ao palco. Afinal, "há sempre uma pequena coisa por dizer", disse o homem, meio atrapalhado, corrigindo a seguir, pois "neste caso é grande".
"Quem anunciou que não estamos sós foi o rei de Espanha", frisou, já com todos meio surpresos a olhar para um homem atrapalhado, por se ter esquecido de dar vivas ao Rei. Depois de tanto se ter ouvido "Viva a Espanha", "viva Catalunha", "viva a Europa" e até "viva a virgem de Zaragoza", foi já ao cair do pano que um dos mais acérrimos defensores da integridade territorial introduziu essa frase que faltou o tempo todo: "Viva também ao rei de Espanha!".