Embaixadora da Palestina acusa Israel de mentir sobre tiros de "advertência": "É uma agressão ininterrupta que não poupa ninguém"
Em entrevista à TSF, Rawan Tarek Sulaiman, representante palestiniana em Portugal, deixa claro que aquilo que está a acontecer na Palestina é um "genocídio" e defende que Israel está a usar a fome "como arma de guerra": "Esta é uma situação muito difícil e não sei quanto tempo [os palestinianos] vão sobreviver"
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A Embaixadora da Palestina em Portugal desmente a versão israelita de tiros de "advertência" sobre um grupo de diplomatas em Jenin, na Cisjordânia, e acusa Israel de ter atacado deliberadamente a comitiva para "esconder qualquer prova dos seus crimes".
Em entrevista à TSF, Rawan Tarek Sulaiman denuncia uma "agressão ininterrupta que não poupa ninguém na Palestina por parte da potência ocupante de Israel" e garante que Telavive tenta afastar todos aqueles que possam testemunhar a "devastação e destruição" no enclave palestiniano.
"Israel não quer que estas pessoas — diplomatas, pessoal da ONU — vejam ou testemunhem os seus atos criminosos na Palestina. Por isso, matam jornalistas, matam trabalhadores humanitários. Querem esconder qualquer prova dos seus crimes na Palestina. Isto tem de acabar. A visita foi declarada. Por isso, o que Israel disse após o ataque não é verdade", sublinha.
Na quarta-feira, Israel admitiu que foram disparados tiros de aviso após um grupo internacional de mais de 20 diplomatas se ter "desviado da rota aprovada” na visita a Jenin, na Cisjordânia ocupada, e "lamentou o incómodo" causado pelos disparos. "A delegação desviou-se do itinerário aprovado e entrou numa zona onde não estava autorizada a estar", declarou o Exército israelita em comunicado, sublinhando que os soldados do Exército que operavam na zona dispararam tiros de aviso para os afastar.
A embaixadora apela para que diplomatas e os jornalistas "continuem a deslocar-se" à região, explicando que, ao fazê-lo, podem depois "informar as suas capitais para que façam alguma coisa para resolver a situação, mas também para mostrarem um sinal de solidariedade para com estas pessoas devastadas".
"Tenho colegas nessas zonas que foram deslocados à força das suas casas e que agora estão na rua, sem ter sequer um sítio onde ficar. Portanto, isto tem de acabar. Esta loucura, esta guerra, esta agressão tem de acabar", reforça.
Confessa ainda estar agrada com a posição do Governo português, que apoiou a proposta neerlandesa para à revisão do acordo de associação da União Europeia com Israel, argumentando que os israelitas não estão a "cumprir as suas obrigações ao abrigo do direito internacional".
Depois de um bloqueio à ajuda humanitária na Faixa de Gaza desde 2 de março, um total de 198 camiões entraram no enclave através da passagem fronteiriça de Kerem Shalom. A informação foi confirmada esta quinta-feira por um porta-voz do Gabinete das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários em Genebra, na Suíça.
Questionada sobre este assunto, Rawan Sulaiman adianta que não está em condições de "confirmar nada" já que o Governo de Benjamin Netanyahu está a usar, "desde o início deste genocídio", a fome "como um crime de guerra". Ainda assim, confessa não ter "qualquer confiança" de que Israel ceda à "pressão internacional" e justifica: "[Israel] quer empurrar os habitantes de Gaza para a fome. E isto é, obviamente, ilegal, de acordo com o direito internacional", vinca, chamando a atenção para os alertas deixados também por António Guterres, secretário-geral da ONU.
A falta de assistência humanitária durante dois meses no enclave "é grave" e há milhões de pessoas em risco de "morrer à fome". A embaixadora da Palestina aponta que não sabe quanto tempo mais podem aguentar os palestinianos nesta situação.
Israel tem intensificado as operações no enclave palestiniano e na última semana, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, anunciou a intenção de ocupar a totalidade da Faixa de Gaza.
De acordo com informações da Organização Mundial da Saúde, de 12 de maio, toda a população de Gaza, cerca de dois milhões de pessoas, está em risco de morrer à fome, além de ser vítima da invasão militar israelita.
Na última sexta-feira, a agência da ONU de assistência aos refugiados palestinianos (UNRWA) fez uma projeção que aponta que entre maio e setembro deste ano mais de metade da população poderá estar em risco de morrer à fome.
O conflito intensificou-se após os ataques liderados pelo Hamas em 7 de outubro de 2023 no sul de Israel, que fizeram cerca de 1200 mortos, na maioria civis, e mais de duas centenas de reféns. Em retaliação, Israel lançou uma operação militar na Faixa de Gaza, que já provocou mais de 53.300 mortos, segundo as autoridades locais.
