É um político "acidental", defensor acérrimo da independência da Catalunha. Antigo jornalista, não declarou lealdade ao rei, quando, em 2016, assumiu a presidência da Generalitat.
Corpo do artigo
Já o consideraram o presidente mais improvável para a Catalunha. Cabelo numa espécie de tigela desalinhada, para esconder a marca de um acidente grave, ar meio desajeitado, quase a fazer 55 anos, Carles Puigdemont é agora um homem de muitos rótulos: de herói de certa Catalunha a inimigo de Madrid; de esperança a fraude.
Depois de dias de intensa exposição mediática, quando afrontando o Governo espanhol, Puigdemont avançou com uma declaração de independência, agora, esfumou-se, depois de uma caótica conferência de imprensa, há dois dias, em Bruxelas.
Do homem que a justiça espanhol ameaça hoje, com prisão, dizem os biógrafos, quase todos amigos, que desde cedo mostrou ter o gene da independência.
Contam que, na escola, católica, colou na bata o lema "Queremos o Estatuto". Eram tempos sob a batuta de Franco e esse Estatuto da Catalunha só viria a concretizar-se quase na década de oitenta.
Pelo meio Puigdemont, segundo de oito irmãos numa família de pasteleiros, sonhou ser astronauta mas mostrou mais zelo pela língua catalã, que estudou na universidade, antes de abraçar o jornalismo, que praticava desde adolescente, sobretudo, numa linha de defesa de ideias de independência.
Chegou a autarca em Girona, gaba-se aliás de ter, conseguido que a cidade fosse palco para a rodagem da sexta temporada da "Guerra dos Tronos".
Ele próprio assume que chegou à política, "por acaso", e à liderança do Governo da Catalunha, quase pela porta das traseiras, depois da precipitada saída de Artur Mas a quem faltou o apoio da esquerda.
Logo no momento da posse, em janeiro de 2016, sob olhar carregado dos representantes de Madrid, Carles Puigdemont garantiu que a pergunta que lhe era feita não fazia referência à lealdade ao rei mas sim ao cumprimento fiel " da vontade do povo da Catalunha e dos seus representantes no parlamento".
Depois no primeiro encontro com Mariano Rajoy, recebeu uma cópia da obra Dom Quixote.
Tinha como ideia fixa garantir a independência através de um referendo que Madrid considerou ilegal.
É casado com uma jornalista de origem romena, uma das razões para ter juntado essa língua às outras que domina catalão, castelhano, francês e inglês. Ainda hoje responde pela alcunha de "Puigdi".