O Presidente francês continua a perder apoios, incluindo no próprio campo político, do partido Renascença. Nos mercados, nos cafés ou nas ruas, a campanha parece difícil para os candidatos que se veem confrontados com a rejeição dos franceses relativamente a Macron
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O Presidente francês está em campanha e tem vindo a repetir que dissolver a Assembleia Nacional foi “a solução mais pesada, a mais grave”, mas também “a mais responsável”. Contudo, se duas semanas depois de ter dissolvido o Parlamento, Emmanuel Macron precisa de se justificar é porque existe uma razão.
A dissolução caiu-lhe em cima, de tal forma que no campo presidencial é considerado contraproducente envolver-se na campanha. Depois de o Presidente francês ter dissolvido o Parlamento, os deputados do partido de Emmanuel Macron, Renascença, continuam descontentes. Um antigo deputado renascentista resume a situação numa frase: “Não podemos ser aquele que dissolve e quem diz: ‘Votem em mim’”. O sinal mais revelador está nos folhetos de campanha onde não se chegou, sequer, a discutir a hipótese de colocar a fotografia de Emmanuel Macron.
Emmanuel Macron atacou a nova Frente Popular que acusou, entre outras coisas, de ter um programa económico “quatro vezes pior do que o da extrema-direita” e de ser “imigracionista” ou mesmo de querer promover “a mudança de sexo nas Câmaras Municipais”. O campo lexical parece extraído do discurso do partido de extrema-direita, União Nacional, para tentar recuperar votos no espectro político da direita, mas as declarações e, em geral, a nova atitude presidencial, exaspera cada vez mais deputados da ala presidencial que não compreende nem concorda com o anúncio da dissolução, convencidos que "o risco de perder é grande".
Nos mercados, nos cafés ou na rua a campanha parece difícil, os candidatos distribuem programas eleitorais e veem-se confrontados com a rejeição dos eleitores em relação a Emmanuel Macron.
"Este sentimento é muito forte", explica à TSF outro candidato: “As pessoas dizem-nos que já chega, que estão fartas”. Este candidato do partido Renascença retirou a fotografia de Emmanuel Macron do programa eleitoral e colocou a imagem do antigo primeiro-ministro Édouard Philippe. Outros candidatos preferem alinhar-se à imagem do primeiro-ministro, Gabriel Attal, ou optam por não colocar fotografia, para se dissociarem do partido presidencial. Muitos deputados reconhecem que são conhecidos nas circunscrições e que essa notoriedade lhes garante seis a sete pontos de vantagem, comparado ao resultado da lista da candidata Valérie Hayer nas eleições europeias.
Na ala de Emmanuel Macron, muitos continuam sem perceber a escolha do Presidente, acusando-se de não ter "calculado as consequências", sentem-se desprezados e questionam se o chefe de Estado está "em contacto com a realidade". A dissolução criou uma ruptura e deixou margem para que se instalassem dúvidas quanto "à capacidade de Emmanuel Macron tomar decisões".
Vários candidatos à reeleição preferem alinhar-se ao primeiro-ministro Gabriel Attal, candidato no 10.º círculo eleitoral de Hauts de Seine, na região parisiense. A faltarem cinco dias para a primeira volta das eleições legislativas, nos subúrbios de Paris que inclui municípios bastante ricos e onde Gabriel Attal desempenha parte do seu futuro político.
Nas ruas, o ambiente da campanha parece ligeiro, embora as palavras sejam duras. Os franceses continuam sem entender a escolha de dissolver o parlamento. “Não foi um bom momento [para dissolver o parlamento]. Não vai haver quase campanha, os Jogos Olímpicos estão à porta", sublinha uma eleitora, pedindo aos candidatos que ouçam os franceses: "Precisam de ouvir mais as necessidades das pessoas, mesmo as ideias dos eleitores que não vos dão jeito."
Questionado sobre o facto de o Presidente da República ser rejeitado pelos eleitores, Gabriel Attal lembra o que está em jogo nestas eleições: “Esta é uma eleição legislativa. Não são eleições presidenciais, não é um referendo a favor ou contra o Presidente da República. É a escolha de um governo”, defende Gabriel Attal, que depois do dia 7 de Julho que continuar a dirigir o executivo. “Estou pronto. Sou claro e livre", conclui.
