Várias empresas portuguesas de frutas e legumes que exportam para o Reino Unido, e que participaram na feira Fruit Logistica, em Berlim, garantem estar preparadas para enfrentar as consequências do Brexit.
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"Ainda não afetou e não se espera que venha a afetar nos próximos meses", garantiu Luís Mesquita Dias, diretor geral da Vitacress, que exporta para o Reino Unido cerca de 20% da sua produção.
"De um ponto de vista logístico e administrativo, num primeiro momento, vai ter impacto e vai ser difícil ou mais difícil de gerir. Do ponto de vista de mercado, estou convencido que não vá haver alterações significativas", reconheceu, admitindo que isso possa envolver custos acrescidos.
"O Reino Unido é o terceiro mercado mais relevante em termos de exportações, por isso temos sempre cuidados extra com o Brexit. Historicamente, as relações com Portugal têm sido muito boas e acreditamos que os consumidores vão continuar a comprar os nossos produtos", referiu Gonçalo Santos Andrade, presidente da Portugal Fresh, a Associação para a Promoção de Frutas, Legumes e Flores de Portugal.
Foi a décima vez que a Portugal Fresh participou na Fruit Logistica com 32 empresas, um número que se tem mantido constante. Muitas exportam para o Reino Unido.
"Poderá haver alguns processos, principalmente na transição logística, que podem ser mais complicados de ultrapassar. (...) Acreditamos que teremos um ou dois meses com maior stresse para manter o nível de exportação que temos tido para o Reino, mas vai continuar a ser um dos principais mercados", adiantou Gonçalo Santos Andrade.
Miguel Langan é sócio da Emergosol, uma empresa familiar que exporta maioritariamente para o Reino Unido. A mãe, inglesa, deixou o Reino Unido há 32 anos para trabalhar em Portugal, criando, em 2003, a empresa em Torres Vedras.
"A maior quebra foi há três anos, quando o câmbio caiu para os 20%, há três anos. A instabilidade tem afetado muito, e esperamos, que para o bom ou para o mau, saibamos o que vai acontecer para podermos reagir", sublinhou à agência Lusa.
A empresa, que exporta 95% dos seus produtos, sobretudo pera rocha e maçã, regista uma faturação anual de 14 milhões de euros.
"Acreditamos que vão continuar a importar porque não têm produção suficiente. (...) Abrimos uma empresa inglesa, com certificação própria, caso seja necessário importar por lá. Como trabalhos com supermercados, precisamos de garantir isso", explicou.
Procurar alternativas de transporte é uma das medidas que está a ser preparada pelas empresas.
"As empresas tiveram alguns cuidados extra, por exemplo, fazer envios via aérea. Mas são situações que se conseguem arrastar cinco ou seis dias, não é viável o custo acrescido que isso implica. Mas as empresas prepararam-se para que não seja um impacto muito relevante", sustenta o presidente da Portugal Fresh.
"Temos estado sobretudo a ver alternativas de transporte para o caso de, nos primeiros tempos, haver grandes engarrafamentos ou obstáculos nas passagens. Temos vindo a testar a via aérea, que é mais cara, mas que já se consegue a preços mais acessíveis. Outros portos de embarque que evitem a chegada à França, e várias alternativas desse género", destacou Luís Mesquita Dias.
A ministra da Agricultura, Maria do Céu Albuquerque, garantiu que o Governo está a criar condições para que a presença das empresas portuguesas no Reino Unido "se mantenha e saia reforçada".
O mercado britânico é o terceiro mais importante para as exportações portuguesas do setor de frutas e legumes. Em 2018 representou 9,7% do total das exportações, cerca de 145 milhões de euros.
"É um mercado muito importante para nós. O que estamos a fazer, através dos diversos canais e dos programas que foram disponibilizados pelo governo, é criar condições para que a nossa presença se mantenha e saia reforçada, se possível", sublinhou a ministra da Agricultura em declarações aos jornalistas.
"Do ponto de vista do que são os custos diretos, até para o próprio Reino Unido, torna-se mais vantajoso, e também dos custos ambientais. (...) Além de que os nossos produtos são de excelência", destacou a governante.
Maria do Céu Albuquerque frisou que o governo está "empenhado", tem "um programa específico" e está a acompanhar "todas as empresas que sinalizem questões que tenham de ver resolvidas" para se manterem no mercado do Reino Unido.
As estimativas da Portugal Fresh para 2019 indicam que as exportações nacionais deverão ultrapassar os 1600 milhões de euros, um crescimento de 105% face aos valores de 2010, ano em que ainda não existia uma estratégia de promoção conjunta e as vendas para os mercados externos valiam 780 milhões de euros.
Tal como em 2010, Espanha continua a ser o principal cliente das frutas, legumes e flores nacionais. Em 2019, entre janeiro e novembro, as exportações para o país vizinho atingiram os 447 milhões de euros, mais 90% do que no mesmo período de 2010.