O chefe da diplomacia norte-americana já admitiu que os EUA ficaram admirados com a mudança de postura da Coreia do Norte. UE e Seul consideram a reunião mais um desenvolvimento positivo.
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A abertura do líder norte-coreano para conversações sobre o programa nuclear causou "alguma surpresa" nos Estados Unidos e levou Donald Trump a aceitar encontrar-se com Kim Jon-Un, admitiu hoje o chefe da diplomacia norte-americana.
"O que mudou foi a postura dele [Kim] e de uma maneira bastante radical. Muito honestamente, causou-nos alguma surpresa", disse Rex Tillerson à imprensa.
Na sequência de contactos entre as duas Coreias, Donald Trump aceitou a proposta do líder da Coreia do Norte para um encontro, que pode realizar-se até ao final de maio, segundo anunciou na quinta-feira em Washington o enviado especial da Coreia do Sul a Pyongyang, Chung Eui-yong.
"A decisão foi tomada pelo próprio Presidente", disse Tillerson, que falava aos jornalistas durante uma visita ao Djibouti. Segundo o secretário de Estado, Trump estava "há algum tempo" disposto a encontrar-se com Kim e, na quinta-feira, decidiu que "é o momento".
"Penso que é o relatório mais positivo que recebemos, não apenas sobre a vontade de Kim Jong-Un, mas sobre a sua vontade concreta de conversar", acrescentou, referindo-se ao relato feito em Washington por diplomatas sul-coreanos sobre os contactos com responsáveis norte-coreanos.
Tillerson fez questão de distinguir "conversações" de "negociações", para frisar que a disposição de Trump para falar com Kim deve ser vista apenas como tal: disposição para falar.
Na sequência da reaproximação iniciada com os Jogos Olímpicos de Inverno na Coreia do Sul, o conselheiro para a segurança da presidência sul-coreana, Chung Eui-yong, reuniu-se na segunda-feira com o líder norte-coreano, Kim Jong-Un.
Nessa reunião, a Coreia do Norte manifestou "vontade de desnuclearizar a península coreana e disse claramente que não existe nenhuma razão para ter armas nucleares se as ameaças militares contra o Norte desaparecerem e se a segurança do seu regime estiver garantida", relatou Chung depois de regressar a Seul.
UE considera reunião entre Trump e Kim Jong-Un mais um "desenvolvimento positivo"
"Saudamos os recentes desenvolvimentos positivos relativamente à situação na península coreana. Mais especificamente, estamos encorajados pelo anúncio de uma cimeira entre o Presidente da Coreia do Sul Moon (Jae-in) e o líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, em abril", declarou a porta-voz da chefe de diplomacia da União Europeia (UE).
"Acreditamos que a disponibilidade do Presidente Trump em aceitar o convite de Kim Jong-un para um encontro em maio também representa um desenvolvimento positivo, e aguardamos com grande expetativa o resultado dessas cimeiras", acrescentou.
Maja Kocijancic disse ainda que se se confirmarem as notícias de que a Coreia do Norte se comprometeu a abster-se de realizar testes com armas nucleares enquanto decorrerem as negociações, "isso pode criar as condições necessárias para uma solução negociada", lembrando que o grande objetivo da UE continua a ser "a desnuclearização da península coreana completa, verificável e irreversível".
A porta-voz de Federica Mogherini lembrou ainda que a União Europeia apoia os esforços de Seul numa solução diplomática para a desnuclearização da península e apontou que a ministra dos Negócios Estrangeiros da Coreia do Sul "juntar-se-á aos ministros dos Negócios Estrangeiros da UE para um debate no próximo Conselho, em 19 de março".
"Marco histórico" para a paz, diz Coreia do Sul
O Presidente sul-coreano, Moon Jae-in, considerou, através do seu porta-voz, que o encontro de maio para falar sobre o programa nuclear norte-coreano "ficará registado como o marco histórico que tornou possível a paz na península coreana". Nesse sentido, sustentou que, com a cimeira, a desnuclearização da península da Coreia seguirá "no caminho adequado".
O Presidente sul-coreano elogiou, além disso, a "coragem e sabedoria" dos líderes de Washington, Donald Trump, e Pyongyang, Kim Jong-un. Moon enalteceu em particular Trump, afirmando que após aceitar o convite de Kim para o diálogo, "receberá os elogios não só das pessoas do Sul e do Norte, mas também de pessoas de todo o mundo".
Pequim congratulou-se com os "sinais positivos dados pelos Estados Unidos e a Coreia do Norte" e instou a um trabalho conjunto com os restantes atores para "restaurar a paz e a estabilidade na península da Coreia", disse, numa conferência de imprensa, um porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês.
Já o chefe da diplomacia russa, Serguei Lavrov, disse considerar a cimeira como "um passo na boa direção" e afirmou que "sem nenhuma dúvida, é necessária para normalizar a situação na península coreana".
O primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, celebrou a "mudança" na posição da Coreia do Norte, o que justificou com as duras sanções contra Pyongyang, mas insistiu que manterá a pressão sobre o regime norte-coreano até que este "realize ações concretas para abandonar de forma irreversível" o seu programa nuclear.