
Um casal sírio, Rania Alabbasi e Abdulrahman Yasin, com os seus seis filhos. A Amnistia Internacional diz que as autoridades de Damasco os prenderam em março de 2013.
Direitos Reservados
A Amnistia Internacional acusa o governo sírio de estar na origem de dezenas de milhares de desaparecimentos forçados. Relatório fala em 65 mil casos em 4 anos.
Corpo do artigo
Um relatório da Amnistia Internacional (AI) revela que nos últimos 4 anos existiram perto de 65 mil desaparecimentos forçados na Síria. O documento não se refere aos mediáticos raptos promovidos pelo Estado Islâmico, mas sim a um outro estilo de crime promovido por agentes ligados ao regime de Damasco: pessoas que desaparecem, pela mão do Estado que, no entanto, não assume que fez essas detenções.
O documento da AI cita números da Rede Síria para os Direitos Humanos que falam em 65 mil casos deste tipo desde 2011. O relatório tem como título "Entre a prisão e a sepultura" e está repleto de histórias concretas (algumas delas apresentadas nas fotografias que acompanham esta notícia). A Amnistia Internacional acusa o regime de Damasco de lucrar com este negócio que atinge oposicionistas, ativistas dos direitos humanos, jornalistas, médicos e trabalhadores humanitários.
A organização não governamental diz que o Estado não assume que tem estas pessoas detidas o que as desprotegem, completamente, perante a lei, pelo que nos últimos anos nasceu uma espécie de mercado negro em que as famílias, desesperadas, tudo pagam para obter uma libertação.
Três histórias: Mohammed, Khalil e Hussein
Mohammed Issam Zaghloul é um caso. A mulher, Maiss, conta que o marido desapareceu em outubro de 2012. Há perto de 3 anos que ela e os três filhos não sabem nada do pai: "Tememos pela sua vida. Pode já ter ou não morrido... mas estamos presos algures no meio. Não avançamos ou desistimos porque não sabemos nada". As últimas informações sobre Mohammed, de fevereiro de 2014, apontavam para uma transferência para instalações militares em Damasco, mas não existe nada de concreto sobre o seu paradeiro.
Raneem Matouq tem uma história semelhante. O pai, Khalil, advogado e defensor de membros da oposição, desapareceu há "3 anos e 30 dias". À TSF recorda que o progenitor "conhecia estes casos na Síria e tentou sempre preparar-nos para uma situação destas, mas tem sido muito difícil pois sabemos como tratam as pessoas".
Hussein Ghrer teve uma sorte diferente. Agora está na Turquia à espera de uma hipótese de se juntar à mulher e aos filhos na Alemanha. Antes, esteve dez meses preso e ninguém sabia onde estava. Recorda tempos de incerteza em que temia por ele, mas também pela família que estava "lá fora" e de quem não recebia qualquer notícia. De repente, sem qualquer explicação, Hussein foi solto e nunca lhe explicaram o que o levou a ser detido ou libertado.