Responsável do governo da República Democrática do Congo alerta para o avanço da epidemia e estima que apenas metade dos casos de infeção estejam identificados pelas autoridades.
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Em julho, contabilizavam-se 2600 casos confirmados por testes laboratoriais desde o início da epidemia, há um ano, e tinham morrido mais de 1700 pessoas. Nos últimos meses surgiram entre 75 e 100 casos por semana.
A segunda vítima de ébola confirmada na cidade de Goma, na República Democrática do Congo terá infetado inúmeras pessoas da própria família antes de morrer da febre hemorrágica.
A confirmação foi feita pelo responsável do governo congolês para a epidemia que estima que as autoridades só tenham identificado metade dos casos de infetados. Este responsável admite mesmo que, a continuar assim, a epidemia possa durar dois ou três anos.
É um alerta que surge numa altura em que se fazem inúmeros apelos na comunidade internacional entre os quais o dos Médicos sem Fronteiras
Os alarmes soaram há um ano, com a declaração oficial de epidemia, mas mais de metade dos casos registaram-se nos últimos meses. João Antunes, representante dos Médicos Sem Fronteiras (MSF) em Portugal, garante que "um dos motivos de preocupação" é o facto de "um terço das vítimas ter sido infetado nas comunidades".
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"São pessoas que apresentaram sintomas da doença mas não tiveram a acessibilidade ou a confiança necessárias para procurar estruturas de saúde que os pudessem socorrer na doença", explica, considerando este um dado que demonstra que "nem tudo está a correr bem" para travar a epidemia a que se junta o aumento dos casos confirmados em Goma, capital da província de Kivu do Norte.
"Goma alberga 1,3 milhões de habitantes e o registo de casos numa cidade com forte densidade populacional dobram os alertas e as precauções que se deveriam estar a tomar", constata João Antunes, apontando três formas de combater o flagelo: "prevenir, recuperar a confiança das populações para que procurem cuidados de saúde e vacinar".
A vacinação é um fator decisivo para alcançar o fim da epidemia, mas, neste caso, "não está a ser suficiente". "O que se está hoje em dia a aplicar é uma vacinação em anel - são vacinadas todas as pessoas que tiveram contacto com pessoas infetadas - e achamos que hoje já não é suficiente ter essa estratégia", salienta João Antunes, defendendo que "deveriam poder ser vacinadas todas as pessoas que habitem nas zonas afetadas".
Os sintomas de ébola "podem ser idênticos aos da malária, mas a proveniência dos casos suspeitos é crucial para o despiste" o que, no caso da República Democrática do Congo, se torna um desafio. A província do Kivu do Norte, onde surgiram os primeiros casos da epidemia, é uma "zona muito montanhosa e de difícil acesso", chegando a ser necessárias "várias horas ou dias para percorrer 50 ou 60 kms", conta. "O facto de ser uma zona de conflito dificulta muito mais o acesso aos doentes por parte dos elementos da ajuda humanitária", acrescenta o representante da ONG em Portugal.
Apesar de ser o décimo surto registado na República Democrática do Congo, a dimensão da epidemia (declarada há um ano) é a maior alguma vez registada no país e a segunda maior de sempre no mundo, depois da que atingiu a África Ocidental entre 2014 e 2016.