Era duas vezes na América. Trump, o Presidente dos EUA que “aconteça o que acontecer” nunca admite derrota
"Uma vitória histórica" nos Estados Unidos para aquele que será o 47. º Presidente norte-americano. Donald Trump não só é o primeiro a regressar à Casa Branca mesmo depois de ter perdido uma corrida presidencial, como é o primeiro Presidente condenado
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Nasceu em Queens (Nova Iorque) numa família com cinco irmãos. Seguiu as pisadas do pai e tornou-se um nome de sucesso no mundo dos negócios. Entrou na corrida à Casa Branca em 2015 e, desde então, empenhou-se em “tornar a América grande novamente”. Pelo meio enfrentou dois pedidos de destituição, uma derrota e críticas à governação. Mas, afinal, quem é Donald Trump, o magnata que, ensinado a “atacar, atacar, atacar” e “aconteça o que acontecer, proclama sempre vitória e nunca admite derrota”?
Comecemos pelo fim: Donald Trump vai ser o 47.º Presidente dos Estados Unidos, após ter derrotado a candidata democrata Kamala Harris na grande maioria dos estados. Com esta eleição, tornou-se o segundo ex-Presidente a regressar à Casa Branca mesmo depois de ter perdido uma corrida presidencial.
Em 2016, conquistou o Partido Republicano e o eleitorado, deixando para trás o ramo imobiliário para se dedicar à política. Donald Trump venceu Hillary Clinton nas presidenciais, uma vitória que abriu portas a um mandato turbulento e alvo de críticas na Casa Branca. Ainda assim, renascer nas cinzas nunca foi tarefa difícil para o magnata.
Licenciado em Economia pela Universidade da Pensilvânia, agarrou no legado deixado pelo pai para expandir os negócios da The Trump Organization, acabando por se tornar um nome de sucesso no mundo dos negócios. Ao lado tinha o advogado Roy Cohn que, na altura, ensinou o jovem empreendedor a “nunca admitir a derrota”. O primeiro caso aconteceu quando a família de Trump foi acusada de discriminar famílias afroamericanas no aluguer de apartamentos. Graças ao mentor Roy Cohn, o processo acabou com um acordo, mas sem admissão de culpa.
A história repetiu-se e a tática continuou. Em 2019, Donald Trump foi acusado de abuso de poder por alegadas pressões para que a Ucrânia influenciasse o resultado das eleições norte-americanas seguintes. Caso não existisse cedência, os Estados Unidos bloqueavam o envio de um pacote de ajuda militar que já tinha sido aprovado pelo Congresso. No X (antigo Twitter), rede social predileta do magnata — comprada por Elon Musk em 2022 (o também dono da Tesla e da SpaceX é um apoiante declarado de Trump) —, negava qualquer ato ilícito e o que é certo é que no final não recebeu qualquer condenação do Senado.
Mesmo quando foi derrotado por Joe Biden, em 2020, Donald Trump foi incapaz de assumir os resultados e não parou até juntar milhares de apoiantes nas imediações do Capitólio, em Washington, onde o Congresso se preparava para oficializar a vitória do democrata nas presidenciais. Quem saiu novamente ileso? Donald Trump que, embora tenha ficado sem acesso ao Twitter e mais calado do que nunca, acabou por conseguir imunidade parcial no caso por parte do Supremo Tribunal dos EUA.
Estes dois casos acabaram em processos de destituição do Presidente americano pela Câmara dos Representantes, mas a relação de forças entre democratas e republicanos no Senado não permitiu conseguir uma maioria qualificada e Donald Trump foi absolvido.
O primeiro mandato de Donald Trump ficou ainda marcado pela desvalorização da pandemia de Covid-19 e pelas polémicas posições sobre a imigração. Qual é a solução para imigração nos Estados Unidos? Para Trump, pode ser tanto a construção de um muro, “fazer o mesmo” que ex-Presidentes e expulsar primeiro antigos criminosos ou até alterar as regras na emissão de vistos.
A tolerância zero demonstrada pelo Presidente dos EUA não foi aceite na altura pela maioria da sociedade americana, mas quatro anos depois o cenário tende a ser outro. Era duas vezes na América.
Escapou a uma bala e regressou ao poder
A corrida à Casa Branca de Donald Trump ganhou uma nova narrativa após um comício em Butler, na Pensilvânia, em julho deste ano. A anunciada redução das taxas de importações sobre produtores estrangeiros ou as políticas de imigração controversas ficaram perdidas no meio da imagem da orelha alvejada do candidato republicano.
Trump tinha começado a discursar quando se começaram a ouvir estrondos em Butler. O candidato à Casa Branca baixou-se rapidamente enquanto os seus guarda-costas o acompanharam do palco até ao carro. O incidente contribuiu para aumentar a popularidade do republicano junto do eleitorado, mas, de acordo com a BBC, um dos fatores que mais influenciou o seu regresso à Casa Branca foi efetivamente a substituição de Joe Biden na corrida.
Se dúvidas existiam sobre a saúde de Biden, o debate entre os dois candidatos no final de junho confirmou que o democrata não estava capaz de assumir mais um mandato. As dificuldades de Biden em apresentar argumentos e a perda, por vezes, de raciocínio, fizeram com que tivesse sido a ainda vice-Presidente dos EUA, Kamala Harris, a tentar ganhar as eleições pelo Partido Democrata.
Acho que vai ser mais fácil vencer Kamala do que Biden, porque ela é uma verdadeira maluca da esquerda radical. (Donald Trump, num comício na Pensilvânia, em agosto de 2024)
Kamala Harris assumiu a corrida à Casa Branca em julho e adotou os lemas “When We Fight, We Win” (“Quando lutamos, vencemos”) e “We’re Not Going Back” (“Não vamos voltar atrás”), esperando ser a primeira mulher eleita Presidente dos norte-americanos.
Kamala, do lado dos democratas (com Tim Walz como candidato a vice-presidente), e Trump, pelos republicanos (com J. D. Vance a concorrer para 'vice'), defendem políticas contrárias para o país, nomeadamente, no que toca à imigração, às guerras na Ucrânia e no Médio Oriente, à interrupção voluntária da gravidez ou à economia. Esses contrastes foram notórios durante a campanha eleitoral, desde logo no único debate entre os dois candidatos, em setembro, onde Harris acusou o adversário de dividir os norte-americanos, enquanto o antigo Presidente republicano insistiu que os democratas estão a "destruir" os EUA.
Kamala Harris é a primeira grande candidata partidária na história americana que rejeita fundamentalmente a liberdade, abraça o marxismo, o comunismo e o fascismo. (Donald Trump, num discurso para líderes empresariais no Clube Económico em Nova Iorque, em setembro de 2024)
Os resultados das eleições são claros: Donald Trump irá tomar posse como Presidente dos EUA a 20 de janeiro de 2025. Aos 78 anos, o magnata torna-se, assim, o norte-americano mais velho a vencer as presidenciais.
Assim nasce uma estrela? No discurso onde declarou uma “vitória histórica”, Donald Trump não poupou elogios a Elon Musk, dono da rede social X e “uma das pessoas mais importantes do país”. Ora, depois de ter sido banido da rede social, em consequência do ataque ao Capitólio, Trump voltou a ser aceite na comunidade, onde conseguiu aproximar-se dos americanos e reforçar o apoio popular. Elon Musk é um apoiante declarado de Trump e, para já, permanecem dúvidas sobre qual o papel que terá neste novo mandato do republicano.
Um criminoso condenado
Quando se fala numa “vitória histórica” de Donald Trump, torna-se praticamente impossível não concordar, não fosse o magnata o primeiro Presidente dos EUA a assumir funções tendo sido previamente condenado em tribunal.
Trump foi acusado de 34 crimes relacionados com a falsificação de contas para pagar o silêncio da atriz porno Stormy Daniels, com quem mantinha uma relação. O republicano foi considerado culpado e a sentença será conhecida no dia 26 de novembro, estando em causa uma pena de até quatro anos de prisão.
Esta não é a primeira vez que Donald Trump foi considerado culpado em casos de justiça. No ano passado, o republicano foi condenado a pagar uma indemnização de cinco milhões de dólares (aproximadamente 4,6 milhões de euros) por ter abusado sexualmente da jornalista E. Jean Carrol e pelo crime de difamação.
Na verdade, são mais de 20 mulheres que acusaram Trump do mesmo crime, inclusive a ex-mulher.
A vida pessoal do 47.º Presidente dos Estados Unidos é marcada por três casamentos e cinco filhos. Trump casou pela primeira vez com Ivana Zelníčková. O casal teve três filhos — Donald Jr. Ivanka e Eric — e acabou por se separar em 1992, tendo surgido alegadas agressões na relação: “Senti-me violada porque o amor e carinho que sempre tinha demonstrado em relação em mim estavam ausentes.”
Donald Trump ainda casou com Marla Maples (com quem teve uma filha, Tiffany), mas é com Melania Trump que regressa agora à Casa Branca. A primeira-dama dos EUA é mãe de Barron Trump, o último filho do magnata.