Especialista em terrorismo defende «atenção especial» aos jihadistas que regressam a casa
Magnus Ransport é um reputado especialista em terrorismo, professor Escola Sueca de Defesa Nacional e membro da rede de especialistas criada pela Comissão Europeia para orientar cidades na prevenção do extremismo.
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Criminosos arrependidos ou jovens rebeldes? Para Magnus Ransport tem de haver equilíbrio.
Para este especialista em terrorismo, a sociedade europeia não pode radicalizar o processo de reintegração de quem parte em nome do Estado Islâmico, mas arrependeu-se.
«Em primeiro lugar cabe às autoridades avaliarem se eles são ou não uma ameaça para a sociedade. Os serviços de segurança falam sempre com quem regressa e ponderam se eles têm intenção de fazer alguma coisa. Se não houver ameaça, são conduzidos para um programa de reintegração», afirmou em entrevista à TSF.
É o que acontece em Aarhus. Uma cidade dinamarquesa de onde partiram 30 jovens para a Síria, no ano passado. A comunidade mobilizou-se e criou um modelo para acolher os que voltam para casa. Sem dedos apontados, como explica Magnus Ransport «se estes jovens quiserem regressar, eles têm de saber que podem contar com o apoio das autoridades e precisam de ter apoio a nível social para voltarem a pôr as suas vidas em ordem. Mas, ainda mais importante, é o apoio da família e dos amigos, porque há muitas famílias na mesma situação».
Magnus Ransport, a partir de Aahrus conta as quatro ferramentas deste programa de reintegração: «uma é o diálogo com as comunidades onde houve problemas no passado, que têm uma mesquita, ou onde haja alguém com ligações à Síria. Têm um diálogo muito bom, direto e produtivo com as mesquitas. Usam, também, mentores que acompanham o regresso destes guerreiros. Têm psicólogos que os ajudam a mudar os hábitos de vida, que os ajudam na integração social e com outros problemas. E depois há uma espécia de rede familiar, que é independente deste programa, mas que os guiam e que ajudam as pessoas que depois têm de lidar com eles 24 horas por dia».
Os números comprovam o sucesso do programa. As autoridades dizem que desde Janeiro nenhum jovem partiu para a Síria. Mas nem tudo são rosas. Para Magnus Ransport, estes jovens podem ser uma ameaça, porque a verdade é que não regressam como partiram.
«Sem dúvida que podem ser um problema para os seus países de origem. São jovens radicais. Quando regressam são recebidos quase como uma estrela de rock na sua comunidade. Têm um enorme "status" social. Têm também uma capacidade incrível para matar. Alguns estão bastante traumatizados.A maioria usou armas para matar pessoas. E, claro, têm contactos internacionais. Estes jovens conheceram, na Síria, jihadistas de todo o mundo. Isto pode constituir um problema para os serviços de segurança que trabalham nestas questões».
No Norte da Europa, para além da Dinamarca, a Noruega, a Holanda e o Reino Unido também estão a ensaiar respostas para este problema. No Sul, o panorama é diferente. Magnus Ransport defende que todos, sem excepção, devem criar programas de prevenção. O caminho para travar estes jovens começa por aqui.