Estações desertas ou fechadas: os efeitos da maior greve ferroviária em mais de 30 anos no Reino Unido

Estação ferroviária deserta em Londres
EPA
Milhões de britânicos foram forçados a alterar as suas rotinas esta terça-feira devido àquela que é apontada como a maior greve ferroviária do Reino Unido em mais de 30 anos. Setor reclama melhores salários e condições de trabalho.
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A greve ferroviária no Reino Unido, que é já considerada a maior em mais de 30 anos, causou o caos e constrangimentos a milhões de britânicos esta terça-feira, obrigando-os a alterarem as suas rotinas. Se alguns optaram por ficar a trabalhar em casa, muitos foram os que decidiram deslocar-se a pé, de bicicleta ou de autocarro para o trabalho.
"Por todo o país há estações que estão desertas ou fechadas e são muitos os milhões de britânicos que hoje se viram obrigados a recorrer novamente ao teletrabalho, mas muitos outros milhões estão, de facto, a ter muitas dificuldades em chegar ao local de trabalho, em particular aqueles que têm de se deslocar para os centros das grandes cidades porque são muitos os comboios que foram suprimidos", relatou o correspondente Emanuel Nunes, dando conta que apenas 4500 dos habituais 20 mil serviços diários estão disponíveis.
Além disso, os poucos comboios que circulam começaram a fazê-lo mais tarde do que o habitual e vão terminar mais cedo. Em algumas linhas, a partir das 15h00 já não haverá circulação de comboios.
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A greve, que começou esta terça-feira, dia 21, e que decorrerá também na quinta-feira, dia 23, e no sábado, dia 25, foi marcada depois do fracasso das negociações com o setor que reclama melhores salários e condições de trabalho. Os sindicatos apontam a terça-feira como o dia de maior impacto da paralisação que atingirá linhas ferroviárias em todo o país e o metro de Londres, mas as perturbações nos transportes deverão sentir-se entre segunda-feira e domingo.
A empresa Network Rail, que gere a infraestrutura ferroviária do país, estimou que apenas 20% do serviço seja prestado, com metade da rede aberta, nos três dias de greve.
De acordo com Mick Lynch, na base do conflito está "a decisão do governo conservador de cortar quatro mil milhões de libras [4,6 mil milhões de euros] em subsídios dos sistemas de transporte do Reino Unido".
"Como resultado da austeridade imposta pelo governo, as empresas tomaram a decisão de cortar o Plano de Pensões Ferroviárias e o Plano de Transportes para Londres, cortando benefícios, fazendo com que os funcionários trabalhem mais tempo, com reformas empobrecidas, apesar de pagarem mais impostos", afirmou.
O RMT afirma ainda que a gestora da rede ferroviária Network Rail pretende cortar pelo menos 2.500 postos de trabalho na manutenção, como parte de um plano de economia de dois mil milhões de libras (cerca de 2,33 mil milhões de euros).
Um porta-voz do grupo Rail Delivery - órgão de associação da indústria ferroviária britânica que reúne empresas de transporte ferroviário de passageiros e mercadorias -, afirmou, por seu lado, que "ninguém ganha" com uma greve. As empresas tentarão "manter o maior número possível de serviços", mas as interrupções "serão inevitáveis e algumas partes da rede não funcionarão", acrescentou, apelando a que os passageiros considerem utilizar transportes alternativos.
Em Londres, as empresas de táxi relataram um aumento na procura na manhã desta terça-feira, com as principais estradas entupidas de autocarros, carros e ciclistas. Nos arredores da capital, formaram-se longas filas nas paragens de autocarro pouco depois das 6h da manhã, mas muitos desistiram. O sindicato RMT, citado pela agência France-Presse, estimou a adesão de 50 mil trabalhadores nos três dias da greve.