"Estamos a recuperar cadáveres." Sem esperança, Capacetes Brancos da Síria deixam críticas à ONU
O fundador da organização lembra na TSF que a Síria vai continuar a precisar de ajuda.
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Os Capacetes Brancos da Síria já não têm esperança de encontrar sobreviventes debaixo dos escombros e acreditam que se perderam muitas vidas devido aos atrasos na chegada de ajuda. Ammar Alselmo, fundador desta organização de proteção civil, contou à TSF a frustração que as equipas de resgate sentiram por não conseguirem responder a todas as necessidades e pedidos de ajuda e lamenta o silêncio inicial das Nações Unidas.
O responsável lembra agora que a Síria vai continuar a precisar de ajuda. As necessidades são mais do que muitas num país já destruído pela guerra e Ammar Alselmo deixa um apelo. Os sírios precisam de quase tudo.
"Agora estamos a recuperar cadáveres. Há famílias que desapareceram, crianças sem pai, sem mãe. Há 40 mil desalojados, 11 mil feridos. Os hospitais foram afetados, 40% das escolas foram afetadas. Temos de reconstruir, precisamos de material médico e assistência médica para os feridos. Precisamos de veículos de apoio para os Capacetes Brancos repararem as infraestruturas, precisamos de abrigo e comida para as pessoas. Temos de recuperar, a vida continua", contou à TSF Ammar Alselmo.
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Depois disso, Alselmo defende que é preciso que a comunidade internacional pressione para que seja encontrada uma solução política para a Síria. Por agora prosseguem os esforços, mas desde o primeiro dia que têm sido muitas as dificuldades.
"Desde o início que a equipa dos Capacetes Brancos deu resposta, mas encontrou muitos desafios. As ligações, a falta de equipamento, de veículos, de equipas... É que nós somos só dois mil", explicou o fundador dos Capacetes Brancos da Síria.
Sozinhos, os sírios não estavam a conseguir responder a todos os pedidos de socorro.
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"Pedimos à comunidade internacional que enviasse equipas de resgate, equipamentos e veículos porque pensámos que sem isso estávamos a perder vidas. Ouvíamos vozes debaixo dos escombros, as famílias a chorarem por ajuda, mas infelizmente temos uma capacidade limitada", revelou.
A ONU, segundo Amar Alselmo, demorou e durante os três primeiros dias nem sequer contactou os Capacetes Brancos.
"Deviam fazê-lo porque somos a única organização a lidar com as operações de resgate. É um desastre natural, por isso eles deviam contactar-nos para nos perguntarem o que precisávamos. As pessoas estavam a morrer debaixo dos escombros sem que tivesse sido feito tudo por elas, por isso tinham a responsabilidade de responder rapidamente", sublinhou Amar Alselmo.
A ajuda da ONU chegou três dias depois do terramoto num comboio humanitário.
"Esses veículos traziam kits de higiene. O que é que as pessoas debaixo dos escombros iam fazer com kits de higiene?", questiona o fundador dos Capacetes Brancos da Síria.