"Estamos completamente às escuras." O testemunho de um português que vive na Venezuela
A Venezuela suspendeu as atividades nas escolas e no comércio para esta segunda-feira. Português revela que houve um saque num supermercado luso em Caracas e admite que nunca viu nada idêntico ao que se está a viver no país.
Corpo do artigo
"A coisa continua muito complicada." As palavras são de Fernando Campos, conselheiro das comunidades portuguesas na Venezuela, a viver em Caracas há 40 anos.
O apagão que se vive na capital venezuelana "tem afetado a comunicação, os telemóveis, os bancos, os sistemas de cobrança". "Está muito complicado, as pessoas estão na rua, a tratar de comprar, de suprir-se com produtos que possam, com água, com gelo, está a perder-se muita comida", conta Fernando Campos, realçando que "as pessoas estão há mais de 48 horas sem luz, não há frigorífico que aguente com isso".
TSF\audio\2019\03\noticias\10\fernando_campos_1_23h
O português tem dificuldade em descrever o que se está a viver no país: "Há muitos problemas, é uma coisa impressionante o que se se está a viver na Venezuela."
As informações são poucas, só funcionam "três ou quatro emissoras de rádio, todas afetas ao governo" e a informação que chega aos habitantes do país "é muito pouca".
Fernando Campos confirma que circula a informação de que há "sérios problemas nos hospitais", com falta de geradores e com atendimentos fracos nas urgências.
"Estão a tratar de manter tudo em segredo, tem-se ouvido que estão a proibir as pessoas de entrar nos hospitais, os que entram não saem, tratar que a informação não saia cá para fora", acredita o comerciante.
O português assegura que estamos perante algo inédito. "Estamos completamente às escuras, é uma coisa incrível. Nunca vi nada similar, as aulas continuam suspensas e não vai haver trabalho", frisou.
TSF\audio\2019\03\noticias\10\fernando_campos_3_23h
"Os portugueses... estamos quase todos ligados ao comércio, vamos ter de tratar de arranjar uma maneira de atender as pessoas, senão os saques que já começaram continuam... vai ser muito difícil de parar", admite Fernando Campos, revelando que já houve saques a um supermercado português em Caracas.
Questionado sobre o apagão, o português revela que as informações apontam para um "ataque cibernético", mas recusa-se a acreditar: "Isto são problemas de manutenção da rede elétrica nacional que já há muitos anos se falava que podia rebentar a qualquer momento."
Escolas e negócios encerrados
A Venezuela viu-se obrigada a decretar mais um dia de encerramento de escolas e negócios, nesta segunda-feira, devido à falta de eletricidade que continua a afetar o país, tal como aconteceu na última sexta-feira.
O fim de semana ficou marcado pelo apagão que se mantém em grande parte do país e, embora o governo de Nicolás Maduro tenha prometido resolver o problema nas próximas horas, o Presidente da Venezuela já veio reconhecer que não há possibilidade de o país regressar à normalidade na segunda-feira.
Num vídeo publicado no Twitter, Maduro assegurou que a estratégia que está a ser levada a cabo para o "enfraquecimento" do regime "irá fracassar", deixando a promessa que se está a trabalhar para que se "recupere plenamente o Sistema Elétrico Nacional".
Perante o cenário, Juan Guaidó voltou a pedir ajuda internacional e apelou ao parlamento que decrete um estado de "emergência nacional".
O autoproclamado Presidente interino da Venezuela afirma que é necessária a ajuda de especialistas para resolver a crise energética no país e, numa conferência de imprensa, Guiadó afirmou que já contactou engenheiros na Alemanha, no Japão e na Colômbia e voltou a apelar aos militares que permitam a entrada destes peritos.