"Estamos fartos de pagar asneiras do Governo." A luta do português ferido pela polícia em Paris
Em quatro meses de protestos dos coletes amarelos, 23 manifestantes ficaram cegos, um deles foi o lusodescendente Jérôme Rodrigues, de 40 anos.
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Desde o início da contestação dos coletes amarelos, a 17 de novembro, a Inspeção Geral da Polícia Nacional francesa registou uma centena de acusações de uso excessivo da força contra o movimento. A maior polémica é levantada pelo uso da arma LBD, Lançador de Balas de Defesa, pela polícia francesa.
Durante os protestos de dia 26 de janeiro Jérôme Rodrigues ficou cego. Passados dois meses, o lusodescendente conta à TSF o que aconteceu. "Fui o número 20 a ficar ferido e a ficar cego de um olho. Fui atingido por dois ataques; um com uma granada e outro com pistola conhecida por LBD-40", descreveu.
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Quanto à violência registada durante os protestos, Jérôme Rodrigues aponta o dedo às autoridade por restringir o direito a manifestar.
Todos os sábados os manifestantes conseguem autorização por parte das autoridades francesas para manifestarem, mas nas ruas a polícia "não permite manifestar" afirma Jérôme Rodrigues. A polícia cria barreiras "nos Campos Elísios para não nos deixar sair", prossegue. Os manifestantes são levados a "andar de um lado para o outro" e ficam cansados. Situações que "levam à violência porque em França o governo não dá liberdade de manifestar e já não é democracia. Democracia vem do latim demos kratos, a voz para o povo. Hoje queremos uma nova forma de democracia, queremos poder decidir o que é bom ou não para o país", conclui.
O lusodescendente alerta para a importância de a polícia francesa rever o uso de armas explosivas em manifestações, armas estas que Jérôme diz "fazerem parte de armas de guerra".
"Tenho 40 anos e desde que nasci todos dizem que é a crise, que temos de pagar e já estamos fartos. Somos humanos e não somos bolsos de dinheiro para pagar asneiras do governo", defende.
Desde o passado 17 de novembro, 1500 agentes das forças de ordem francesas e 2300 manifestantes ficaram feridos em protestos do movimento coletes amarelos. Segundo dados revelados pelo Estado francês, em quatro meses, 9800 pessoas foram detidas no quadro das manifestações e 8800 ficaram detidas preventivamente.
O governo francês avaliou em 200 milhões de euros o valor dos estragos provocados em manifestações deste movimento social, entre os quais 30 milhões no protesto de sábado 16 de Março, indicou o ministro da Economia, Bruno Le Maire. Os bancos têm sido os alvos privilegiados dos manifestantes mais violentos. Em quatro meses 270 bancos foram vandalizados.
A sondagem Elabe publicada esta semana indica que 84% dos franceses condenam os atos violentos da semana passada, no decorrer da 18.ª manifestação dos coletes amarelos.