A provável candidata democrata à Presidência dos EUA, Hillary Clinton, anunciou a escolha do senador Tim Kaine, da Virgínia, como seu candidato a vice-presidente.
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"Estou entusiasmada por anunciar o meu companheiro de corrida, Tim Kaine, um homem que dedicou a sua vida à luta pelos outros", escreveu Hillary Clinton, a provável nomeada dos Democratas na Convenção da próxima semana, na sua conta pessoal do 'Twitter'.
Numa segunda mensagem, Clinton elogiou Tim Kaine, 58 anos, fluente em espanhol, conhecido pelas suas maneiras afáveis e com experiência em matérias de defesa e política externa.
"Tim Kaine é um otimista sem remédio que acredita que nenhum problema é insolúvel se trabalharmos na solução", escreveu Hillary Clinton.
Quem é Tim Kaine, o senador americano que viu a sua vida ser moldada pela América Latina
Tim Kaine tinha pouco mais de 20 anos, estudava Direito, quando decidiu deixar tudo para ir para as Honduras, para uma pequena escola dirigida por jesuítas espanhóis e norte-americanos que procuravam tornar o mundo um pouco melhor.
O que o futuro senador não sabia era que essa viagem iria mudar a sua vida. Nem que mais de 30 anos depois, poderia estar a um passo de ser vice-presidente dos Estados Unidos, acompanhando Hillary Clinton na corrida à Casa Branca.
Quando Tim Kaine chegou ao país centro-americano, em 1980, vivia as dúvidas existenciais própria da idade, mas "uma pequena voz interior", enraizada nas suas crenças católicas, impôs-lhe fazer uma pausa nos seus estudos de Direito em Harvard para ir à descoberta.
"Traquinas, enérgicos e cheios de sonhos", recorda Kaine ao falar desses adolescentes, com idades a rondar os 14 anos, a que ensinava carpintaria e outras técnicas manuais na escola "El Progresso", enquanto que aqueles jesuítas que "tinham escolhido servir os mais pobres entre os pobres, longe dos seus lares" se tornaram, nas suas palavras, num "modelo a seguir quando necessitava de uma direção".
"Os meus mais de 30 anos como advogado dos direitos civis e como funcionário eleito foram construídos na base do que aprendi nas Honduras", afirmou há um ano, após regressar de uma viagem oficial como senador àquela humilde escola.
Ali aprendeu espanhol, mas também criou uma forte relação com a região, uma empatia especial com o continente, que mais tarde, como senador e membro do Comité de Negócios Estrangeiros da câmara alta, viria a defender.
Começou no mundo da política em 1995, como vice-presidente do município de Richmond (Virgínia), e desde então centrou a sua carreira no serviço público, depois como presidente dessa cidade, e mais tarde como vice-governador e governador do seu estado, para acabar, em 2012, no Senado dos Estados Unidos.
A sua vasta experiência política foi um dos seus pontos fortes para ser hoje escolhido pela aspirante a candidata democrata à Presidência dos Estados Unidos, Hillary Clinton, como seu companheiro de campanha, pois além de ser um profundo conhecedor da política nacional, também está envolvido na Defesa, através do Comité de Serviços Armados de que é membro.
Nos anos em que esteve na câmara alta, não hesitou em envolver-se na defesa dos imigrantes dentro do país, apoiando os indocumentados e fazendo uso dos seus conhecimentos de espanhol para se dirigir à comunidade latino-americana que vive nos Estados Unidos.
Não é raro vê-lo nos corredores do Senado cercado por uma 'nuvem' de jornalistas de língua espanhola, que lhe tentam arrancar uma declaração no seu espanhol fluente, uma raridade entre os deputados sem raízes latinas.
Este conhecimento, e a sua compreensão da relação especial que a Espanha tem com a América Latina, e por sua vez, com os Estados Unidos, levaram-no a presidir ao Conselho EUA-Espanha, pelos Estados Unidos.
Casado com Anne Holton, atual secretária de Educação da Virgínia, desde 1984 e com quem tem três filhos, Tim Kaine é reconhecido por aqueles que o conhecem como tendo um dom especial para a proximidade.
"Sabe dar um toque pessoal até num aperto de mão mais rotineiro", disse à Efe José Parra, ex-assessor do líder da minoria democrata no Senado, Harry Reid.
"Há uns meses vi-o num evento e fui cumprimentá-lo. Estava a falar com o ex-senador Richard Lugar, uma figura nos Negócios Estrangeiros. Kaine, não só interrompeu a conversa para me cumprimentar, como disse: "Apresento-lhe o meu amigo José", descreve Parra, especialista em comunicação política.
"Estes detalhes (...) são vitais e sobretudo em campanha. O carisma soma votos", disse.
Para alguns analistas este lado afável e próximo de Kaine era visto como um fator desfavorável para a sua escolha para o cargo de vice-presidente, especialmente num ciclo eleitoral tão atípico e duro frente ao republicano Donald Trump.
Outros, porém, acreditam que compensa o rosto frio que muitos eleitores veem em Hillary Clinton, cujo marido, o ex-presidente Bill Clinton, também recomendou que Kaine caminhasse a seu lado na sua corrida da ex-secretária de Estado à Casa Branca.
Kaine pode ajudar Clinton a ganhar os apoios dos hispânicos e do estado da Virgínia, um palco de grande disputa entre democratas e republicanos.
A escolha é anunciada dias antes da Convenção Nacional do Partido Democrata, em Filadélfia.