Francisco Assis e Sérgio Humberto apontam proximidade com Timor-Leste como fator estratégico e sublinham necessidade de cooperação
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O eurodeputado Francisco Assis (PS) alerta para a importância da União Europeia projetar os seus valores democráticos e de paz no Indo-Pacífico, numa altura em que a região é palco de competição intensa entre potências globais.
“Não aceitamos uma nova ordem mundial assente apenas num equilíbrio de forças entre grandes potências que se degladiam umas com as outras e tendem a esmagar os outros países de dimensão mais reduzida”, afirma, em entrevista ao programa da TSF Fontes Europeias, a partir de Díli.
Assis sublinha que a União Europeia nasceu “numa perspetiva de consolidação do entendimento e da paz no continente europeu” e que projeta esses valores no mundo. Sublinhando que “a Europa fez uma reflexão profunda sobre o seu passado imperial e colonial, ao contrário de outros atores”, Francisco Assis considera que, por isso, a União Europeia “está em melhores condições para falar” com os chamados países emergentes.
A missão parlamentar a Timor-Leste insere-se nos trabalhos da Assembleia Parlamentar Paritária, que junta eurodeputados e deputados de África, Caraíbas e Pacífico. É liderada por Francisco Assis e conta também com a presença do social-democrata Sérgio Humberto, numa comitiva de dez eurodeputados.
A missão do Parlamento Europeu em Timor-Leste acontece numa altura em que o país se prepara para a adesão plena à Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN).
“Timor é um pequeno país, mas é um povo que deu uma extraordinária lição ao mundo, porque em determinadas circunstâncias derrotou o fatalismo, derrotou todas as regras da realpolitik e foi capaz de alcançar a sua independência perante uma grande potência regional como é a Indonésia. E, por isso, é um símbolo e os símbolos também são importantes a todos os níveis”, frisa Assis.
Cooperação
O eurodeputado Sérgio Humberto afirma que a União Europeia deve olhar para Timor-Leste “não como um país pequeno de um milhão e 400 mil pessoas”, mas como um parceiro com potencial, “à semelhança de Singapura”. Sérgio Humberto sublinha que o país está a consolidar a sua democracia e que se quer afirmar como um “player” na região.
O eurodeputado do PPE identifica como áreas prioritárias de apoio europeu a nutrição, a inclusão social e a diversificação económica, alertando que a reserva petrolífera poderá esgotar-se em 2034. “Eles têm de apostar noutras áreas. A agricultura, do ponto de vista dos alimentos orgânicos sustentáveis, podem e devem apostar naquilo que é o café, naquilo que é a baunilha, naquilo que é o cacau. Acho que são três produtos de excelência e também apostar no turismo”, defende.
Representação da UE
Ambos os eurodeputados contestam a possibilidade de redução da delegação da União Europeia em Díli e de transferência de funções para Jacarta.
Assis considera que tal medida revelaria “um certo desconhecimento de toda a história recente nesta região”, lembrando que “não se pode esquecer que Timor foi ainda muito recentemente ocupado pela Indonésia”.
Sérgio Humberto adverte que um recuo enfraqueceria a credibilidade europeia, frisando que, “bem pelo contrário, o que tem de acontecer é fortalecer-se a presença europeia”.
No balanço da missão do Parlamento Europeu, Sérgio Humberto descreve Timor-Leste como “um diamante por lapidar”, com oportunidades no turismo, agricultura, pescas e energia. Francisco Assis destaca a “grande vontade de reforçar a cooperação com a União Europeia”, salientando que os timorenses reconhecem o valor dos apoios já recebidos e esperam o aprofundamento dessa relação.