Invasão da Amazónia. Exploradores de mina de ouro expulsam tribo depois da morte de líder
A exploração de minérios de forma ilegal atingiu proporções alarmantes na Amazónia, com os garimpeiros a devastar as florestas, desde que o Presidente Jair Bolsonaro iniciou uma censura pública às multas aplicadas a este tipo de atividade.
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Dezenas de garimpeiros invadiram uma aldeia indígena numa zona remota da Amazónia, onde o líder da tribo nativa foi esfaqueado até à morte. O grupo de exploradores de uma mina de ouro assumiu então o controlo da vila, quando a comunidade residente se pôs em fuga, com medo.
A informação foi avançada pelo The Guardian , que cita políticos locais e líderes indígenas. A polícia brasileira está a investigar o caso na reserva indígena Waiãpi, de 600 mil hectares, no estado do Amapá.
A exploração de minérios como o ouro de forma ilegal tem atingido proporções alarmantes na Amazónia, com os garimpeiros a devastar as florestas e a poluir os rios com mercúrio, desde que o Presidente Jair Bolsonaro iniciou uma censura pública às multas aplicadas a este tipo de atividade.
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Os garimpeiros foram avistados após o homicídio de Emyra Waiãpi, líder da comunidade, cujo corpo foi encontrado perto da vila de Mariry. Os indígenas fugiram, alegadamente forçados pelos disparos ouvidos no sábado. Vários líderes indígenas e políticos locais pediram ajuda policial urgente por temerem "um banho de sangue".
"Os garimpeiros invadiram a aldeia indígena e estão lá até hoje. Estão extensivamente armados, têm metralhadoras. Por isso pedimos a ajuda da Polícia Federal ", delatou Kureni Waiãpi, de 26 anos, integrante da tribo que mora na cidade mais próxima de Pedra Branca do Amapari, a duas horas de distância (189 quilómetros) da capital do estado do Amapá, Macapá. "Se nada for feito, eles vão começar a lutar."
"Esta é uma situação muito tensa", analisou também Beth Pelaes, presidente da Câmara de Pedra Branca do Amapari. Beth Pelaes teme os impactos naquela que diz ser uma tribo muito tradicional e que permite apenas visitantes autorizados.
Randolfe Rodrigues, senador do estado do Amapá, diz ter recebido mensagens de áudio desesperadas com pedidos de ajuda da polícia e do exército de Jawaruwa Waiãpi, um vereador e líder local. O cantor brasileiro Caetano Veloso também deixou o seu apelo pelos indígenas "agredidos e ameaçados" na rede social Instagram.
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Sonia Guajajara, coordenadora executiva da APIB - Articulação dos Povos Indígenas do Brasil , deixou também uma mensagem de alerta na mesma plataforma.
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Kureni Waiãpi, da comunidade indígena, acredita que o Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, encorajou invasões como estas: "O Presidente está a pôr em perigo os povos indígenas do Brasil."
O senador Rodrigues culpou as repetidas promessas de Bolsonaro para permitir a mineração em reservas indígenas protegidas, onde é atualmente proibido, pela primeira invasão da terra Waiãpi em décadas. Na década de 1970, a tribo foi quase exterminada por doenças, depois de estas terras terem sido invadidas por garimpeiros de ouro.
"O governo de Jair Bolsonaro está a encorajar este conflito, incentivando os garimpeiros a entrar. As suas mãos estão sujas ", acusou o senador Rodrigues.
Numa intervenção pública recente, Bolsonaro comparou povos indígenas que vivem vidas tradicionais nas suas reservas a "homens pré-históricos".