Fake News e execuções públicas. A Rússia tentou interferir nos protestos do Sudão
A empresa de um oligarca com ligações ao Kremlin propôs ao antigo ditador uma estratégia para acabar com os protestos. A CNN revela que Omar Al Bashir aceitou algumas ideias que passavam por espalhar informações falsas nas redes sociais.
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A cadeia de televisão norte americana teve acesso aos documentos com a proposta entregue em Cartum. A estratégia passava por divulgar notícias falsas nas redes sociais, culpar Israel pela agitação e realizar execuções públicas para dar o exemplo. Entre as informações falsas estariam a de que os manifestantes tinham atacado e incendiado hospitais, mesquitas e escolas. Seriam também divulgados vídeos e fotografias manipulados que colocavam bandeiras LGBT entre os manifestantes, apresentando-os como inimigos do Islão e da moral.
Múltiplas fontes governamentais e militares confirmaram à CNN que o governo recebeu as propostas e começou a agir antes de Bashir ser deposto. Um oficial do antigo regime disse que diversos conselheiros russos estavam a monitorizar os protestos e começaram a elaborar um plano para combatê-los com o que definiram como "perdas aceitáveis de vida".
Os documentos não são de qualquer instituição oficial russa mas da empresa de um oligarca ligado ao Kremlin, Yevgeny Prigozhin. A estratégia foi delineada para proteger os interesses russos no Sudão e manter Bashir no poder. No Sudão, Moscovo tem usado o modelo usado para expandir a influência em África e em todo o mundo, ou seja, uma mistura de interesses privados e do estado que tanto agrada aos oligarcas como ao Kremlin. É uma estratégia para ocupar uma posição em lugares estratégicos sem grandes gastos para o estado porque não há qualquer compromisso de forças regulares ou grandes investimentos do governo.
Os documentos da empresa M-Invest, que incluem cartas e comunicações internas, foram entregues à CNN pelo Dossier Center, uma empresa do adversário de Vladimir Putin, o empresário exilado Mikhail Khodorkovsky. A televisão norte americana avaliou os documentos e considerou-os credíveis e adiantou que são consistentes com os relatos de testemunhas que garantem que observadores russos foram vistos nos recentes protestos no Sudão.
A CNN tentou falar com a empresa russa, que tem escritórios em São Petersburgo e em Cartum, mas não conseguiu.
O oligarca Yevgeny Prigozhin é conhecido como o "cozinheiro de Putin" por causa dos contratos de catering que tem com o Kremlim. Ele é um dos 13 russos acusados por Robert Muller, o procurado especial norte-americano, por interferência nas eleições presidenciais de 2016.