"Falta de reciprocidade." Agricultores espanhóis manifestam-se contra o acordo entre UE e Mercosul
Pedem reciprocidade nas exigências à produção de alimentos e criação de gado e que se acabe com “a concorrência desleal”
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Agricultores e empresários da pecuária de toda a Espanha concentraram-se esta segunda-feira em frente ao Ministério da Agricultura, Pesca e Alimentação para protestar contra o acordo entre a União Europeia e o Mercosul. A manifestação foi convocada por duas associações do setor e reuniu 1500 manifestantes em Madrid, segundo os dados da polícia, 5000 segundo os organizadores.
Os agricultores queixam-se da “falta de reciprocidade” do acordo e de como “provoca concorrência desleal” entre os países europeus e os da América do Sul. “Nós estamos a favor de um acordo com o Mercosul, porque exportamos muitos produtos que produzimos, mas não nestas condições. Não pode ser que na Europa tenhamos de respeitar determinadas normas, que encarecem a produção dos produtos, e que depois os produtores fora da Europa não tenham de as cumprir. Os seus produtos acabam por competir com os nossos a um menor preço”, defende Pedro Barato, presidente da Associação Agraria de Jovens Agricultores (ASAJA).
Durante as mais de duas horas que durou a concentração ouviram-se muitos assobios, gritos contra o Governo e foram expostos vários cartazes com frases como “é a morte do campo espanhol”; “concorrência desleal” ou “justiça para a nossa carne, cereal e mel”. Os agricultores citam, por exemplo, o uso no Mercosul de produtos fitossanitários proibidos na UE para a beterraba e os citrinos, o uso no Brasil de hormonas de crescimento pecuário ou os controlos avícolas. Exigem que as normas ambientais, sanitárias e de bem-estar animal sejam “iguais para todos”.
“Pedimos ao Governo que defenda o setor primário e nos apoie. É também a sociedade toda que está em jogo, porque se vão expor os consumidores europeus a produtos que não têm garantias sanitárias... as mesmas que nos são exigidas a nós”, denuncia Ramón Solanilla, secretário-geral da ASAJA em Aragão.
“Estão a favorecer a importação de produtos agrícolas abaixo dos nossos custos de produção, como moeda de troca para outros interesses, e sem cumprir a regulamentação da UE”, acusa Barato. “Andamos a dizer o mesmo há muitos meses: o que queremos é competir com as mesmas regras do jogo. Queremos reciprocidade e cláusulas espelho, que as normas sejam iguais para todos e isso não acontece no acordo com o Mercosul."
“Queremos que o ministro Luís Planas nos explique e nos convença dos benefícios deste acordo”, insiste Miguel Padilha, secretário-geral da Coordenadora de Organizações de Agricultura e Pecuaria (COAG nas siglas em castelhano). “Porque nós não somos capazes de ver nenhum.”
Os manifestantes avisam que, se não forem ouvidas as suas exigências, vão voltar às ruas. “Este é só o primeiro passo, é o início de um inverno e uma primavera quente se não se mudarem as condições deste tratado”, explica Eduardo Eraso. “Se ninguém nos der ouvidos, vamos voltar a cortar estradas e às manifestações massivas em todo o país, até que nos ouçam”.
