Famílias das vítimas de Covid-19 em Itália vão processar primeiro-ministro e ministro da Saúde

O primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte
EPA
Familiares das vítimas do coronavírus acusam o Governo de Giuseppe Conte de negligência e querem que os políticos sejam responsabilizados.
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Os familiares das vítimas da Covid-19 em Itália vão levar a tribunal responsáveis políticos italianos, que acusam de negligência criminosa durante a pandemia. Em causa estão o primeiro-ministro de Itália, Giuseppe Conte, o ministro da Saúde, Roberto Speranza, e o presidente regional da Lombardia, Atillio Fontana.
A ação judicial é levada a cabo por um grupo de 500 famílias de doentes que morreram infetados pelo coronavírus na região da Lombardia, uma das mais atingidas durante a primeira vaga da pandemia.
Cada família reclama uma indemnização no valor de 259 mil euros, mas, mais do que a compensação financeira, dizem querer que as autoridades sejam responsabilizadas por nada terem feito. "Nem que seja só um euro [de indemnização], vai demonstrar a responsabilidade", defende o advogado dos familiares das vítimas (que também perdeu o pai devido à Covid-19), Consuelo Locati, em declarações ao jornal britânico The Guardian.
As famílias alegam que as autoridades italianas decidiram reabrir um hospital em Alzano Lombardo horas depois de ter sido detetado lá um surto de coronavírus, a 23 de fevereiro, e que estas não colocaram de imediato aquela cidade em quarentena, assim como a cidade vizinha de Nembro, apesar das recomendações dos especialistas para que isso fosse feito.
Os familiares reclamam também por não ter sido divulgado qualquer plano de combate à pandemia a nível nacional, o que terá levado as autoridades regionais a falharem na aplicação de planos locais, que deveriam ter sido desenvolvidos a partir desse plano nacional.
Já foram feitas mais de 300 queixas de negligência relativas ao modo como as vítimas da Covid-19 morreram, queixa essas que estão a ser investigadas pelas autoridades desde junho. O advogado dos familiares das vítimas garante que a investigação levada a cabo nos últimos meses já "permitiu identificar responsabilidades claras", que levam agora as famílias a avançar com uma ação judicial contra os responsáveis políticos
"O Governo e a região são responsáveis por violarem regras e por abandonarem os seus deveres", afirmou o advogado.
"A lei obriga a Itália a ter uma plano nacional adequado e as autoridades regionais a implementarem um plano regional adequado, mas não havia diretrizes", reclama Locati. "Os cidadãos esperavam que o Estado e o governo regional fizessem o seu trabalho e protegessem as vidas das pessoas e eles não o fizeram", acusa.
Os familiares dizem querer traçar a linha que separa aquilo que "nunca pode ser aceitável" e falam neste processo legal como um "presente de Natal" para todos "aqueles que deveriam ter feito algo e não o fizeram e que, por causa disso, levaram a que, neste Natal, haja 70 mil cadeiras vazias em Itália".
A Itália foi o primeiro país da Europa a ser severamente atingido pela Covid-19, e conta já com um total de pelo menos 69.842 óbitos e 1.977.370 infetados desde o início da emergência sanitária em meados de fevereiro.
De acordo com um relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS), citado pelo The Guardian, acerca da resposta inicial de Itália à pandemia, o plano pandémico que estava em vigor no país datava de 2006.
Segundo o jornal, este relatório foi publicado no site oficial da OMS a 13 de maio deste ano, mas foi retirado logo no dia seguinte, alegadamente a pedido do italiano Ranieri Guerrra, responsável pelas iniciativas estratégicas da OMS.
Ranieiri Guerri foi o diretor-geral para a saúde preventiva no Ministério da Saúde Italiano, entre 2014 e 2017, pelo que estaria a seu cargo a atualização das diretrizes para um plano de resposta a uma pandemia.
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