"Fanatismo não morreu." Nos 80 anos da libertação de Auschwitz, sobreviventes querem memória viva contra esquecimento
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O mundo recorda, esta segunda-feira, os 80 anos da libertação de Auschwitz, símbolo máximo do terror nazi. De manhã, Emmanuel Macron homenageou as vítimas no Memorial da Shoah, em Paris, antes de viajar para Auschwitz, onde se vai juntar às cerimónias internacionais.
Os relatos das sobreviventes mantêm vivo o passado. Esther Sénot, uma das 12 últimas sobreviventes dos campos de concentração ainda vivas em França, descreve o horror de Auschwitz: "Diziam-nos para não nos iludirmos. Tínhamos sido selecionados para trabalhos forçados: enquanto pudéssemos trabalhar, ficaríamos no campo; no dia em que não conseguíssemos trabalhar, acabaríamos como os outros. Diziam-nos que não havia qualquer possibilidade de sobreviver. Podíamos viver alguns dias, algumas semanas, alguns meses... mas ninguém sairia vivo. Diziam-nos: ‘Entraram pela porta, vão sair pela chaminé'", conta.
"Fomos levados num comboio a partir de Bobigny. Eu estava num vagão sem janelas. Imaginem um vagão sem janelas, com 70 ou 80 pessoas que não tomavam banho há três dias, que faziam as necessidades debaixo da roupa... era um caos, insuportável", recorda Ginette Kolinka, com 99 anos, deportada aos 19 anos.
Há mais de vinte anos, Ginette Kolinka sensibiliza jovens nas escolas para que compreendam a gravidade dos crimes nazis: "Tu és alto, forte, pareces ter 15 anos. Talvez te deixassem viver. Mas todos os outros, os que não parecem ter 15 anos, seriam assassinados. E porquê? Porque um senhor chamado Hitler odiava, odiava com todas as suas forças, as pessoas da minha religião."
Para assinalar os 80 anos da libertação de Auschwitz foi inaugurado em Lyon um memorial da Shoah na Place Carnot, junto à estação de Perrache, um dos locais de partida dos comboios da morte.
O monumento, em forma de carruagem, é composto por 1173 metros de caminho de ferro, que simbolizam a distância até Auschwitz. O magistrado Jean-Olivier Viou sublinha a importância deste novo memorial: "Serve para relembrar as lições da história. É absolutamente indispensável nos tempos que correm, porque o fanatismo não morreu. Temos de insistir e relembrar constantemente que o fanatismo nazi e os fanatismos de hoje conduzem a estes horrores. Esta é a mensagem que pretendemos transmitir à nova geração", acredita.
Gravados nas carruagens estão os números da tragédia: seis milhões de judeus mortos, incluindo 1,5 milhões de crianças. Da região de Rhône-Alpes, 6100 judeus foram deportados.
Em Paris, a iniciativa digital E. Stèles, criada pela cidade e pelo Memorial da Shoah, homenageia as 935 crianças judias não escolarizadas e deportadas. A aplicação reúne nomes, imagens e dados biográficos dessas crianças, que estão expostos nos jardins de cada bairro da capital.
