Federação Europeia dos Transportes alerta para colapso no abastecimento de combustível

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Federação Europeia dos Trabalhadores dos Transportes considera que a escassez de motoristas é "uma questão de más condições de trabalho".
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A Federação Europeia dos Trabalhadores dos Transportes alerta para as "más condições" em que operam os motoristas internacionais na União Europeia.
A secretária-geral desta plataforma europeia considera que a Europa continental não está livre de um cenário idêntico ao que se vive atualmente no Reino Unido, de escassez de abastecimento nos supermercados e postos de combustível.
Ouvida pela TSF, considera que as condições vêm a degradar-se ao longo de duas décadas, e piorou no último ano e meio, com a pandemia a tornar os problemas mais evidentes.
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A secretária-geral da Federação Europeia dos Transportes, Livia Spera entende que "a escassez de motoristas é uma questão de más condições de trabalho, maus salários, um mau período para os motoristas".
Com a recente escalada dos preços dos combustíveis, Lívia Spera teme que "possa traduzir-se em piores condições para os trabalhadores", já que, acredita, "haverá menos dinheiro para gastar em salários".
No último ano e meio os trabalhadores viram as suas condições "agravarem-se", afirma a dirigente europeia, descrevendo um cenário em que faltam as condições mais elementares.
"De repente, os motoristas foram deixados nas estradas. As casas de banho encerradas. Os duches encerrados. Os parques de estacionamento, que na Europa já se encontram em péssimo estado, até ficaram inacessíveis. Foram deixados sozinhos. Por vezes até abandonados", lamenta.
"Os nossos membros visitavam os parques de estacionamento, no início da pandemia, e tinham de responder às necessidades mais básicas, para ajudar os motoristas", afirmou à TSF.
Livia Spera denuncia também problemas na forma como o setor está estruturado, com "empresas de transporte fictícias [da Europa] ocidental, com escritórios fictícios nos países da Europa Central e de Leste, aplicando condições sociais do leste, para motoristas que trabalham na Europa ocidental. Muitas vezes têm de dormir nas cabinas. Qual é o incentivo para trabalhar no setor?"
Por isso alerta que a situação que se verifica no Reino Unido pode ser apenas a ponta de um icebergue e podemos vê-la em qualquer lugar, já que "há uma escassez de motoristas um pouco por toda a União Europeia".
Há uma semana, a Federação Europeia dos Transportes assinou uma carta aberta, dirigida à Assembleia Geral das Nações Unidas, em que alertam para o "colapso mundial" do sistema de transportes a nível internacional.
A carta é assinada pela Associação Internacional de Transporte Aéreo, pelo Sindicato de Transporte Rodoviário e a e pela Federação Internacional de Trabalhadores dos Transportes, que representam no seu conjunto mais de 65 milhões de trabalhadores.
Na missiva descrevem a "escassez de trabalhadores que se verifica em todos os setores", e que foi agravada pela pandemia, podendo forçar a "saída de muitos outros".