João Pedrosa decidiu ficar na cidade chinesa que é o epicentro do novo coronavírus. Agora, escreve no site da TSF sobre o estranho dia a dia em Wuhan.
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Hoje, dia 2 de março de 2020, o meu telemóvel, quando eu preenchia na app da minha empresa o relatório diário sobre o meu estado de saúde, foi invadido por uma invulgar quantidade de mensagens dos meus colegas.
A razão para esta agitação deveu-se ao facto dos números relacionados com o surto do novo coronavírus darem sinais que a situação em Wuhan, e em Hubei, poderá ter um fim à vista. Um deles afirmou mesmo que "em dois ou três dias será possível ver a luz da vitória". Neste último dia, Hubei registou 196 casos de infetados e 42 óbitos.
No resto da China apenas houve dez incidentes com infeções e nenhuma morte. Tudo indica que a tendência de melhoria da situação começa a consolidar-se e em especial no que diz respeito às recuperações, pois por dia na China já são cerca de 3 mil e na província de Hubei ultrapassa os dois milhares. Talvez a confirmar estas melhorias possa ser o facto de já haver alguma desmobilização na utilização de meios.
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Um dos chamados "hospitais improvisados" no distrito de Qiaokou, em Wuhan, suspendeu as suas operações neste domingo e todos os seus pacientes receberam alta ou foram transferidos para outros hospitais. Tornou-se assim no primeiro hospital temporário da cidade a parar de receber pacientes infetados com o novo coronavírus. Um total de 34 pacientes recebeu alta e voltou para casa. Outros 76 pacientes foram transferidos para duas das outras unidades médicas, apresentando dez deles sintomas graves e os restantes sintomas leves.
Desde a sua abertura, em 11 de fevereiro passado, este hospital atendeu 330 pacientes, dos quais 232 recuperaram. No entanto, o hospital e os seus trabalhadores médicos, todos da província de Shanxi, manter-se-ão de plantão de forma a prevenir casos de emergência.
Também ontem, foi concedida a alta a cento e trinta e dois pacientes do hospital temporário Wuhan Livingroom. Este é, até agora, o maior grupo de doentes a ter alta de uma só vez. O mais novo foi um paciente com 19 anos e mais idoso foi um doente com 75 anos. Este hospital recebeu, desde do passado dia 7 de fevereiro, 1.760 doentes e 587 deles já tiveram alta.
O Wuhan Livingroom é o maior deste tipo de hospitais de Wuhan e trata principalmente pacientes com sintomas leves. Os seus mil trabalhadores médicos provêm de 14 equipas médicas de diversas províncias da China e o hospital está dotado com equipamento médico avançado, laboratórios, robots de desinfeção e de meios para realizar diagnósticos remotos com especialistas de outros hospitais.
No entanto, apesar de alguns indicadores positivos, continua claro para todos que a situação se mantém critica e que ainda não é tempo para haver celebrações. Aliás, isso mesmo foi salientado nas mensagens dos meus colegas - destaco algumas: "Cumprir com o isolamento", "Ser paciente", "Ser perseverante", "Vamos sair vitoriosos", ...
João Pedrosa em Wuhan (2 de março de 2020)
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