Fim da "luta armada" do PKK: "Acordo pode ajudar ao desenvolvimento do Curdistão do Norte"
Isabel David, professora no ISCSP, considera na TSF que aquele acordo agora alcançado poderá ser muito importante para um novo mandato do Presidente turco
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O fim da "luta armada" do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) é consequência da atual conjuntura internacional, mas também da política interna da Turquia. É o que considera na TSF Isabel David, professora no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP), da Universidade de Lisboa, e especialista em assuntos turcos.
A guerrilha curda do PKK anunciou esta segunda-feira a dissolução e o fim da "luta armada" de 40 anos contra o Estado turco. Isabel David sublinha, em declarações à TSF, que esta decisão "está relacionada com a nova conjuntura internacional, nomeadamante os acontecimentos na Síria e também a nova Presidência dos Estados Unidos", que, refere a docente, "tornam desfavorável o contexto internacional para o PKK".
No entanto, a especialista em assuntos turcos salienta que a própria política interna do país tem igualmente uma dose de culpa: "O Presidente turco [Recep Erdogan] e o seu principal parceiro de coligação, o Partido Movimento Nacional, também estão nessa iniciativa. E o objetivo é garantir que o AKP [Partido da Justiça e Desenvolvimento, de Erdogan, no poder] possa ter, pelo menos, mais um mandato presidencial em 2028. Portanto, esta iniciativa também tem em conta as dinâmicas internas de poder na Turquia e o apoio dos curdos é fundamental para qualquer vitória", sublinha Isabel David.
O PKK tinha como objetivo primeiro a criação de um estado curdo independente, mas, ao longo do tempo, foi abandonando a tendência independentista, colocando como principal objetivo uma maior autonomia e mais direitos. "Este conflito tem sido muito mortífero e tem condicionado toda a política da Turquia, e também no Curdistão do Norte, que é a área curda na Turquia. Portanto, se este acordo avançar (...), poderá dar um impulso ao desenvolvimento económico daquela zona que, claramente, tem sido esquecida na Turquia desde sempre", afirma.
Contudo, até agora, ainda não foram conhecidos mais detalhes. Isabel David reconhece que é preciso saber "como serão os termos do acordo com os curdos, se terão algum tipo de autonomia". "O AKP já tinha dado alguns direitos aos curdos, que eram inéditos, como o direito a falarem a própria língua, uma aposta num desenvolvimento regional para aquela área. Portanto, os curdos viram alguma concretização de direitos com o AKP. Agora, como vai ser implementado esse acordo, que termos serão consagrados, se implicará a libertação de Abdullah Öcalan [fundador e líder da organização]. [...] Todas estas questões são também essenciais para a implementação deste acordo", diz ainda a professora do ISCSP.
