"Fizeram as torturas dos nazis parecerem muito simpáticas." Ahmad Helmi esteve três anos preso na Síria
Ahmad Helmi lidera a iniciativa Ta'afi, que tem o objetivo de localizar os cem mil desaparecidos no país, mas explica à TSF que "não há um padrão" para os raptos.
Corpo do artigo
Ahmad Helmi passou três anos em prisões sírias, conseguiu fugir e, mesmo depois disso, foi condenado a prisão perpétua. Agora, é presidente da iniciativa Ta'afi (recuperar, em português) e procura os mais de cem mil desaparecidos vítimas do regime de Bashar al-Assad.
"Eles fizeram as torturas dos nazis parecerem muito simpáticas", disse Ahmad à TSF, sobre o tempo que passou nas prisões na Síria.
O ativista sírio era estudante de construção civil, quando um dia às portas da Universidade de Damasco, o regime de Bashar al-Assad lhe mudou o destino.
TSF\audio\2023\04\noticias\27\rui_polonio_sirio
"Havia um posto de controlo à entrada da universidade. Eu estava a ir para a minha faculdade e eles raptaram-me", conta Ahmad Helmi.
Passou os primeiros seis meses em prisões subterrâneas, sem ver a luz do sol, e depois conheceu mais nove prisões: "Na primeira cela éramos 36 ativistas, na segunda 72, na última 48 ou 47 e por aí fora. Éramos centenas de pessoas."
Esteve preso de dezembro de 2012 a outubro de 2015, acusado de apoio ao terrorismo, e acabou por ser julgado à revelia. Depois, conseguiu fugir.
"A minha família entregou uma grande quantidade de dinheiro a alguns funcionários. Eu fui libertado e fugi do país. Depois fui condenado a prisão perpétua", explica Ahmad, que já estava na Turquia na altura dessa condenação.
Ahmad Helmi sabe que é um dos poucos que sobreviveram aos desaparecimentos: "Muitos daqueles com quem partilhei a comida e a cela morreram mesmo ao meu lado."
O desaparecimento é uma arma utilizada pelos vários lados do conflito e há mais de cem mil pessoas desaparecidas. Há poucas semanas, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, pediu um instrumento para as localizar. O problema é que "não há um padrão".
"Se sairmos para ir comprar pão, podemos desaparecer. Se formos ativistas, podemos ter a certeza de que vamos desaparecer. Se formos a caminho da universidade sem nunca termos tido atividade política, podemos desaparecer", afirma o ativista.
Aos 33 anos, 12 depois de ter sido preso, Ahmad Helmi lidera a Ta'afi Initiative. O objetivo é localizar os mais de cem mil sírios que ainda estão desaparecidos, muitos dos quais o sobrevivente conhece bem.