Flotilha humanitária denuncia explosões e drones ao largo da Grécia. Mariana Mortágua fala em "manobra de intimidação"
Em declarações à TSF, a líder do Bloco de Esquerda dá conta de nove ataques contra a flotilha, sendo que uma das explosões aconteceu no momento em que Mariana Mortágua era entrevistada pela TSF: "Está a acontecer um, esta foi uma explosão em direto, há um relâmpago e a seguir ouve-se uma explosão"
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A flotilha que se propõe levar ajuda humanitária para Gaza foi alvo na terça-feira de "explosões" e "vários drones" enquanto seguia ao largo da Grécia. Pelo menos um dos barcos ficou danificado. Em entrevista à TSF, Mariana Mortágua dá conta de nove ataques contra a flotilha.
"Num deles há um dispositivo lançado sobre um barco, mas que não atinge o barco, cai para a água; num outro há um dispositivo lançado sobre um barco e que deixa uma substância não reconhecida dentro do barco, mas que não teve efeitos letais sobre ninguém. A partir daí, começaram explosões com clarões, parece-nos que são um tipo de dispositivo para fazer a explosão, não nos parece que seja um dispositivo letal. Entendemos esta como uma manobra de intimidação", conta à TSF Mariana Mortágua.
Uma das explosões aconteceu no momento em que a líder do Bloco de Esquerda era entrevistada pela TSF: "Está a acontecer um, esta foi uma explosão em direto, há um relâmpago e a seguir ouve-se uma explosão."
Mariana Mortágua afirma que os constantes ataques atrasam a flotilha e volta a criticar a posição de Portugal em relação à missão, lembrando que já vários países declararam apoio e proteção às embarcações.
"Espanha, Irlanda e Eslovénia já declararam que considerariam um ataque a esta flotilha uma violação do direito internacional. Não é o caso de Portugal, que não faz parte desses países, lamento que a posição de Portugal seja diferente. Achamos que vamos conseguir, porque são dezenas de barcos, centenas de países, com muitas figuras públicas, mas isso traz algumas questões organizativas, o facto de serem vários barcos atrasa um bocadinho o processo, estes ataques permanentes também atrasam o processo, sobretudo, quando danificam as embarcações. Nós, sem incidentes, chegaríamos a Gaza num prazo de sete a dez dias", sublinha.
Em comunicado, citado pela agência France-Presse, a Flotilha Global Sumud denuncia que "vários drones, objetos não identificados lançados, comunicações bloqueadas e explosões foram ouvidas de vários barcos".
"Estamos a testemunhar estas operações psicológicas em primeira mão, mas não seremos intimidados", acrescentou a mesma fonte.
A Flotilha Global Sumud frisou ainda que "os esforços que Israel e os seus aliados farão para prolongar os horrores da fome e do genocídio em Gaza são repugnantes".
"Mas a nossa determinação está mais forte do que nunca. (…) Cada tentativa de nos intimidarmos apenas fortalece o nosso empenho. Não seremos silenciados. Continuaremos a navegar", pode ler-se na mesma nota.
A flotilha zarpou na semana passada da Tunísia, após vários adiamentos devido à segurança, à preparação dos barcos e às condições meteorológicas.
Os navios pretendem chegar a Gaza para entregar ajuda humanitária e "quebrar o bloqueio israelita", depois de duas tentativas terem sido bloqueadas por Israel em junho e julho.
Israel avisou na terça-feira a Flotilha Global Sumud que não permitirá que nenhum navio entre numa "zona de combate ativa" nem tão pouco a "violação de um bloqueio naval legal".
"Se o desejo genuíno dos participantes da flotilha é entregar ajuda humanitária, Israel apela a que os navios, em vez de servirem o Hamas, atraquem no porto de Ascalon e descarreguem a ajuda aí, de onde será transferida rapidamente e de forma coordenada para a Faixa de Gaza", afirmou o Ministério dos Negócios Estrangeiros num comunicado.
A Flotilha Global Sumud rejeitou também na terça-feira a proposta de transferir a ajuda humanitária atracando num porto israelita.
No domingo, a flotilha tinha denunciado a presença de "múltiplos drones" nas proximidades dos seus navios que navegam em águas internacionais em direção à Faixa de Gaza.
Cerca de 300 voluntários de 44 países fazem parte do esforço para levar ajuda humanitária ao enclave palestiniano.
A iniciativa é composta por ativistas, políticos, jornalistas e médicos, incluindo portugueses, e é considerada a maior flotilha organizada até à data, procurando levar ajuda humanitária ao enclave palestiniano e denunciar o cerco israelita à Faixa de Gaza.
A bordo da flotilha seguem a coordenadora do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua, o ativista Miguel Duarte e a atriz Sofia Aparício, bem como a ativista ambiental sueca Greta Thunberg.
Em agosto, as Nações Unidas declararam o estado de fome em parte da Faixa de Gaza, palco de uma guerra desencadeada pelo ataque do Hamas em solo israelita, a 07 de outubro de 2023, que provocou cerca de 1.200 mortos e mais de duas centenas de reféns.
A retaliação de Israel já provocou mais de 65 mil mortos, a destruição de quase todas as infraestruturas de Gaza e a deslocação forçada de centenas de milhares de pessoas.
Israel também impôs um bloqueio à entrega de ajuda humanitária no enclave, onde mais de 400 pessoas já morreram de desnutrição e fome, a maioria crianças.
