"Fome como arma de guerra é próprio da Idade Média." Trump deve "assumir responsabilidades" e deixar de apoiar "regime criminoso"
À TSF, o antigo secretário-geral adjunto da ONU Victor Ângelo sublinha que a situação vivida na Faixa de Gaza é "absolutamente dramática", não só do ponto de vista humanitário, mas também do ponto de vista da lei internacional
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O antigo secretário-geral adjunto da ONU Victor Ângelo defende que usar a fome como arma de guerra é um comportamento próprio da Idade Média e insta a comunidade internacional a "convencer" o Presidente norte-americano a assumir "as suas responsabilidades" de deixar de apoiar o regime "criminoso" de Israel.
A ONU declarou esta sexta-feira oficialmente a fome na cidade de Gaza, a primeira a atingir o Médio Oriente, depois de os especialistas terem alertado que 500 mil pessoas se encontravam numa situação catastrófica.
Em declarações à TSF, Victor Ângelo sublinha que o mundo tem "visto perfeitamente que as pessoas estão numa situação de fome generalizada e que essa fome é provocada pelo cerco israelita". Afirma, por isso, que não está surpreendido com as conclusões do relatório.
A situação vivida na Faixa de Gaza, diz, é "absolutamente dramática", não só do ponto de vista humanitário, mas também do ponto de vista da lei internacional. "Um crime de guerra tem de ser, mais tarde ou mais cedo, trazido perante os tribunais internacionais", sublinha.
A fome como arma de guerra era algo que se praticava na idade média. Nos dias de hoje é absolutamente proibido e quem utiliza a fome como a arma de guerra tem de ser trazido perante o Tribunal Penal Internacional, e ser julgado como criminoso de guerra.
Victor Ângelo defende que, para acabar com esta situação, "basta convencer" o Presidente dos EUA, Donald Trump, a assumir as suas "responsabilidades", que passam desde logo por "deixar de apoiar o regime criminoso que está neste momento a tomar conta do Governo de Israel".
Sublinha igualmente ser "fundamental" que o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, e os ministros mais radicais "mudem de atitude" e passem a permitir a entrada dos camiões que, ao longo dos meses, se foram acumulando junto à fronteira de Gaza, sem autorização para entrar.
Israel anunciou que planeia tomar a cidade de Gaza e outros bastiões do grupo. Nesse sentido, o Exército israelita começou a contactar equipas médicas e organizações humanitárias em Gaza para se prepararem para se deslocar para sul, onde devem tratar da população deslocada, doentes e eventuais feridos.
Desde 2 de março deste ano, quando Israel reforçou o seu bloqueio, o número de camiões que entram na Faixa de Gaza caiu drasticamente, o que provocou uma escassez e um aumento acentuado dos preços.
Mesmo os produtos básicos estão fora do alcance da maioria da população, sendo que um quilo de açúcar é vendido por cerca de 76 dólares (cerca de 65 euros), enquanto um quilo de batatas ou farinha custa quase 30 dólares (cerca de 26 euros), segundo dados do Programa Alimentar Mundial (PAM).
Isto levou muitas famílias a reduzir a sua ingestão de alimentos a uma única refeição por dia, sem acesso a pão, vegetais frescos ou proteína suficiente, e muitos pais saltam refeições para alimentar os filhos.
Israel tem em curso uma ofensiva militar na Faixa de Gaza desde que sofreu um ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023, que causou cerca de 1200 mortos e o rapto de 250 pessoas, feitas reféns. A ofensiva israelita em grande escala provocou mais de 62.190 mortes em Gaza, a maioria civis, de acordo com dados do Ministério da Saúde de Gaza, considerados fiáveis pela ONU.