Fontes Europeias. Marta Temido considera “tardias e insuficientes” medidas de Von der Leyen sobre Gaza
Marta Temido defende na TSF dívida comum para financiar a Defesa e pede coragem semelhante à pandemia para enfrentar a crise da Habitação
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A eurodeputada socialista Marta Temido considera “tardias e insuficientes” as medidas anunciadas pela presidente da Comissão Europeia em relação a Gaza, sublinhando que a União Europeia perdeu credibilidade ao longo de um ano de inação face à crise humanitária.
“Se estas medidas tivessem sido tomadas quando, há um ano, começámos a pedir no Parlamento a sua aplicação, a expectativa seria outra”, afirma a eurodeputada, avisando que “a União demorará muito a recuperar da descredibilização provocada pela resposta de inação perante um massacre e uma tragédia humanitária”.
Ursula von der Leyen anunciou no discurso sobre o Estado da União a suspensão de apoios bilaterais a Israel, sanções contra ministros extremistas e colonos violentos e uma suspensão parcial do Acordo de Associação. Para Marta Temido, mais do que ouvir os eurodeputados, a presidente da Comissão “ouviu os europeus que se manifestaram na rua, mostrando que a sociedade civil tem voz”.
Em entrevista ao programa Fontes Europeias que, esta quinta-feira, regressa à antena da TSF, a eurodeputada defende que a solução de dois Estados continua a ser essencial, mas reconhece a fragilidade da Autoridade Palestiniana e o contributo negativo do Hamas, para que aquela via seja alcançada.
Defesa
Outro tema central do discurso de Von der Leyen foi a Defesa. A presidente da Comissão defendeu a criação de um Semestre Europeu da Defesa, com metas de prontidão até 2030, e anunciou programas financeiros que podem chegar aos 800 mil milhões de euros. Marta Temido considera que se trata de um passo inevitável, tendo que conta que “a NATO do artigo 5.º do Tratado de Washington já não existe".
“Quanto mais tempo demorarmos a perceber isso, mais tempo demoraremos a garantir a autonomia estratégica de que precisamos em relação aos Estados Unidos”, refere.
A eurodeputada sublinha que a Europa tem de estar consciente das diferentes perceções de risco. “Da geografia de Portugal, o olhar é um; da geografia da Polónia, é outro”, frisa a eurodeputada, considerando que se o objetivo é ter “uma Europa coesa, não se pode esquecer o medo diário e existencial que esses países sentem de que a história se repita”, numa referência aos chamados países da linha da frente, como é o caso da Polónia, que na quarta-feira enfrentou uma invasão do seu espaço aéreo por drones russos.
Questionada sobre o financiamento das medidas para o reforço da Defesa europeia, admite dúvidas quanto à capacidade de mobilizar recursos na escala necessária, sem dívida comum europeia. “Só podemos implementar políticas na medida dos espaços orçamentais disponíveis. Se quisermos ser mais ambiciosos, precisamos de encontrar novos recursos. O próximo quadro financeiro plurianual traz algumas respostas, mas não são suficientes”, alerta.
Para Temido, o financiamento da Defesa deve andar lado a lado com a coesão social. “Podemos vencer um inimigo externo e cair às mãos da erosão interna se não garantirmos bem-estar aos europeus”, assinala Marta Temido, admitindo que sem emissão de dívida comum “muito brevemente será difícil financiar políticas sociais e de habitação”.
Habitação e custo de vida
Marta Temido destaca como novidade relevante o anúncio de um plano europeu para a habitação acessível, que é uma área “tradicionalmente” vista como da responsabilidade dos Estados-membros. “Vimos de um momento em que se dizia que a Europa não tinha nada a ver com políticas de Habitação para um ponto em que se reconhece que até as classes médias enfrentam custos incompatíveis com o modelo social europeu”, afirma.
A eurodeputada lembra a postura determinada da Comissão durante a pandemia e diz esperar a mesma atitude agora. “Espero que a presidente tenha a mesma coragem em relação à Habitação. A Europa pode fazer, portanto faça-se”, declarou.
Entre as medidas possíveis, aponta a regulação do mercado imobiliário, nomeadamente no alojamento de curta duração, e o alargamento das ajudas de Estado à habitação acessível, não apenas à habitação social. “Além de financiamento específico, é preciso rever regras e permitir intervenção mais abrangente”, defende.