Fontes Europeias no Colégio da Europa: três jovens portugueses debatem os desafios da UE
Na semana em que se celebram os 75 anos da declaração de Schumann, a TSF convida estudantes portugueses do Colégio da Europa a refletirem sobre os desafios da UE
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Na véspera do Dia da Europa, a histórica cidade de Bruges serve de cenário simbólico para uma conversa no programa Fontes Europeias, transmitido a partir do campus do Colégio da Europa. É aqui, entre edifícios históricos e as salas de aula que Charline dos Reis Barreiras, Francisca Garrido e Francisco Carneiro, três estudantes do Departamento de Estudos Políticos e de Governação, testam convicções, experimentam ideias e procuram antecipar um futuro europeu. A guerra na Ucrânia, a emergência da defesa como tema incontornável em Bruxelas, a ameaça aos valores fundadores da União Europeia: tudo está em cima da mesa.
Diversidade
É “na diversidade” que Charline dos Reis Pereira vê a fórmula para uma Europa mais unida, capaz de alcançar a promessa fundadora de paz, prosperidade e solidariedade. “Viemos de todos os meios que podemos conhecer, temos colegas da Ucrânia, temos colegas que vêm da Arménia, dos Estados Unidos, todos os continentes, eu acho que é passando por essa unidade na nossa diversidade que vamos vencer guerras, que iremos mais longe que essas guerras e que vamos mostrar que a paz passa pelo trabalho de se unir e trabalhar todos juntos”, afirma.
Filha de emigrantes portugueses em França, Charline escolheu o curso de Estudos Políticos e Governação como “um ‘challenge’”, depois de se ter formado em Direito. Em Bruges, desenvolveu a sua tese sobre os sistemas anti-fraude da União, incluindo o papel do OLAF e da Procuradoria Europeia.
Europa incompleta
Francisca Garrido nasceu na Bélgica e viveu entre Angola, Bruxelas e Lisboa. Foi na capital portuguesa que se licenciou em Gestão, no ISCTE e concluiu o mestrado em Desenvolvimento Internacional na Universidade Nova de Lisboa. Francisca sublinha que há muito por fazer para garantir que todos os europeus partem do mesmo ponto.
“A primeira prioridade é termos a certeza que toda a gente que vive na União Europeia tem as mesmas hipóteses e que temos condições de vida adequadas a toda a gente tenha acesso às mesmas condições de vida”, afirma esta estudante, que, na sua tese, em Bruges, defendeu a necessidade de um aprofundamento da União Fiscal. “Neste momento ainda não é um dado garantido e ainda há pobreza e eu acho que diria que o primeiro foco deveria ser mesmo esse”, frisa.
“Temos disparidades enormes e perfis diferenciados que agora numa União Europeia de prioridade focada na competitividade têm de ser alavancados, têm de ser reforçados”, enfatiza Francisco Carneiro, que, por sua vez, aponta para o “desenvolvimento integrado de todos os setores da sociedade e de todos os setores do Estado e dos Estados-membros na União Europeia”. Francisco vem de Marco de Canaveses, depois de uma passagem por Lisboa, onde estudou Relações Internacionais, e de um trabalho da REPER portuguesa (a Representação Permanente de Portugal junto das instituições da UE) em Bruxelas.
Na União Europeia, a comunicação falha, afirmam. “A União Europeia é muito boa a implementar projetos e tudo, só que não sabe demonstrar aquilo que faz. E infelizmente eu vejo isto em Portugal, entre os meus amigos e tudo, que ainda há muita narrativa de quando algo de mal acontece, a União Europeia é culpada, a Comissão é culpada. E quando há algo de bom, é normalmente a nível nacional”, lamenta Francisca Garrido.
Francisca afirma-se “muito privilegiada” por poder discutir estes temas e ter estas conversas diretas com comissários”, lembrando o encontro recente com o comissário para a Juventude, Glenn Mikaleff, num seminário no Colégio da Europa.
Habitação
O acesso à habitação, tema, até há pouco tempo, marginalizado na agenda europeia, é uma preocupação partilhada pelos três. “Há muitos estudantes que vivem na pobreza, (...) que não podem pagar um alojamento [a um preço] correto”, lamenta Charline, considerando que “a União tem que ver este problema como um desafio muito grande”. Francisco destaca a ambiguidade institucional do tema, pois embora tenha sido criado um cargo de comissário para a Habitação, “não é necessariamente uma competência da União Europeia, e, no entanto, tivemos a presidente da Comissão Europeia aqui num discurso a falar sobre isso”.
No futuro, Charline espera poder trabalhar em Portugal, na área de “política e direito criminal europeu”, com foco na corrupção e no combate ao terrorismo. Como filha de emigrantes portugueses, sempre viveu fora, trabalhar em Portugal “seria também uma forma de me conhecer a mim mesma”, afirma.
Francisca sonha com a ação externa da UE e imagina regressar a África ou à América Latina, onde viveu. Francisco hesita entre trabalhar primeiro em Portugal ou manter-se em Bruxelas: “Muito provavelmente daqui a 10 anos vejo-me a contribuir para políticas públicas nacionais com impacto europeu.”