Ouvida pela TSF, Joana Ricarte, especialista em relações internacionais, considera que, embora o acordo entre o Hamas e Israel, no Egipto, seja um primeiro passo para a deposição das armas, é preciso fazer muito mais para que seja atingida uma paz duradoura
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As negociações indiretas entre Israel e o Hamas, que começaram segunda-feira no Egito com o objetivo de pôr fim à guerra em Gaza, foram "positivas" e devem ser retomadas esta terça-feira, disseram à France-Presse duas fontes palestinianas.
As fontes próximas da equipa negocial do Hamas, disseram à Agence France-Presse (AFP) que o encontro de segunda-feira à noite foi positivo, acrescentando que a reunião prolongou-se durante quatro horas.
Segundo a AFP, as negociações indiretas devem ser retomadas esta terça-feira ao meio-dia (10h00 em Lisboa) em Sharm el-Sheikh, uma estância turística egípcia localizada na Península do Sinai.
No dia 29 de setembro, após contactos com o Hamas e com o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, o Presidente norte-americano, Donald Trump, revelou um plano para pôr fim à guerra em Gaza, incluindo a libertação de todos os reféns, uma retirada gradual do Exército israelita e o desarmamento do movimento que controla o enclave palestiniano.
Ouvida pela TSF, a especialista em relações internacionais Joana Ricarte considera que, embora o acordo entre o Hamas e Israel, no Egipto, seja um primeiro passo para a deposição das armas, é preciso fazer muito mais para que seja atingida uma paz duradoura.
"O futuro para a Palestina e para Israel tem de passar pela perceção de que reparação é necessário, de que condições de vida são necessárias, de que as populações, quando têm esperança, quando têm possibilidade de vida, têm muito mais possibilidade de coexistirem e isso tem de ser o futuro. Neste momento, isso não está a ser abordado, há uma coreografia nos processos de paz, como é óbvio, portanto é compreensível que demore para se chegar aí. Se pararmos no fim da guerra, não será suficiente para que o futuro da Palestina seja de coexistência, seja de paz, seja de um Estado palestiniano, que hoje para todos os efeitos práticos e materiais é inviável", explica à TSF Joana Ricarte, sublinhando que "ou se criam condições para a existência desse Estado [palestiniano] ou abandona-se essa ideia e garante-se que um Estado que se chame o que quer que seja tenha igualdade de direitos e perspetiva de futuro para todos".
A guerra em Gaza começou há precisamente dois anos, após o ataque do Hamas contra território israelita.
O ataque do dia 7 de outubro de 2023 resultou na morte de 1219 pessoas, a maioria civis, segundo um relatório compilado pela AFP com base em dados oficiais.
Das 251 pessoas raptadas do Hamas nesse dia, 47 continuam reféns em Gaza, 25 das quais já terão morrido, segundo o Exército de Israel.
A resposta militar de grande escala de Israel fez 67.160 mortos no enclave costeiro palestiniano, de acordo com o Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas.
